ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA
DEBATER O PROJETO DE LEI REFERENTE À URBANIZAÇÃO DA ÁREA DO PONTAL DO ESTALEIRO
– QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA QUARTA LEGISLATURA, EM
06-8-2008.
Aos seis dias do mês de agosto do ano de dois mil e
oito, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara
Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e quatro minutos, o Vereador
Sebastião Melo assumiu a presidência e declarou abertos os trabalhos,
informando que a presente Audiência Pública seria destinada a debater o Projeto
de Lei do Legislativo nº 006/08, Processo nº 2486/08, que classifica como
empreendimento de Impacto de Segundo Nível o projeto de revitalização urbana do
trecho da orla do Guaíba localizado na UEU 4036, denominado Pontal do
Estaleiro, conforme requerido pelo Clube de Mães do Cristal, nos termos do
Edital publicado no Diário Oficial de Porto Alegre do dia sete de julho de dois
mil e oito (Processo nº 3846/08). Durante os trabalhos, estiveram presentes os
Vereadores Adeli Sell, Beto Moesch, Carlos Comassetto, Carlos Todeschini, Dr.
Goulart, Elói Guimarães, Ervino Besson, Guilherme Barbosa, João Antonio Dib, João
Carlos Nedel, Margarete Moraes, Maristela Maffei, Maurício Dziedricki, Neuza
Canabarro, Professor Garcia, Sebastião Melo e Sofia Cavedon. Compuseram a Mesa:
o Vereador Sebastião Melo, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; a
Senhora Maria Madalena Superti Rossler, Presidenta do Clube de Mães do Cristal;
e o Arquiteto Jorge Debiagi, representando o Grupo BM PAR Empreendimentos Limitada.
Ainda, durante a presente Audiência Pública,
foram registradas as presenças, neste Plenário, das Senhoras Maria Dolocaps,
representando a Secretaria Estadual da
Administração e Recursos Humanos; Rita Carnevale, Presidenta do Conselho
Municipal de Ciência e Tecnologia – COMCET –; e Ana Maria Moreira Marchesan,
Promotora de Justiça da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de
Porto Alegre; dos Senhores Edir Domeneguini, Diretor de Patrimônio do Estado do
Rio Grande do Sul; José Luiz Valim Alves, representando a Secretaria Municipal
de Obras e Viação; José Artur Horhn, do COMCET; Luiz Canabarro Cunha,
representando a Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto
Alegre – PROCEMPA –; Valter Souza, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias
de Construção Civil de Porto Alegre – STICC –; Daniel Luiz Antoniolli, Presidente do Sindicato da Hotelaria e
Gastronomia de Porto Alegre – SINDIPOA –; e Hilton de Assis, Assessor
Comunitário, representando o Departamento de Esgotos Pluviais – DEP. A
seguir, o Senhor Presidente prestou esclarecimentos acerca das normas a serem observadas
durante os trabalhos da presente Audiência Pública, informando que, após o
pronunciamento da Senhora Maria Madalena Superti Rossler e do Senhor Lauro
Rossler, representando o Clube de Mães requerente
desta Audiência, e do Arquiteto Jorge Debiagi, representando o grupo
empreendedor do projeto de revitalização urbana do trecho da Orla do Guaíba
localizado na UEU 4036, seria concedida a palavra para manifestações de
representantes da comunidade e de Vereadores inscritos. Em continuidade, foram iniciados os debates acerca
de questões relativas ao Projeto de Lei do Legislativo nº 006/08, tendo o
Senhor Presidente concedido a palavra à Senhora Maria Madalena Superti
Rossler e aos Senhores Lauro Rossler e Jorge
Debiagi, que se pronunciaram sobre o assunto. Após, o Senhor Presidente
concedeu a palavra aos inscritos, que se pronunciaram na seguinte ordem: o
Senhor Paulo Gilberto de Moraes Guarnieri, da Associação de Moradores do Centro
de Porto Alegre; o Senhor Fernando Luiz Barth, Delegado da Região de Gestão de
Planejamento nº 01 do Fórum de Planejamento da Secretaria Municipal de
Planejamento; o Vereador Guilherme Barbosa; o Senhor Eduíno de Mattos, do Fórum
de Entidades; o Senhor Alex Sandro Souza da Silva, Conselheiro da Região de
Gestão de Planejamento nº 05 do Fórum de Planejamento da Secretaria Municipal
de Planejamento; o Vereador Beto Moesch; a Senhora Khátia Vasconcelos, do
Movimento Integridade; o Senhor José Luiz Provenzano da Luz, morador do bairro
Menino Deus; a Vereadora Margarete Moraes; o Senhor Luiz Felipe Oliveira, da
Associação de Moradores do Bairro Chácara das Pedras – AMACHAP – e do Movimento
Porto Alegre Verde; o Senhor Daniel
Luiz Antoniolli, Presidente do SINDPOA; a Senhora Sandra Jussara
Ribeiro, Vice-Presidenta da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural –
AGAPAN –; a Vereadora Sofia Cavedon; o Senhor Valter Souza, Presidente do
STICC; o Senhor Pedro Larré Lopes, da União de Vilas da Grande Cruzeiro; o Vereador
João Carlos Nedel; o Senhor Norberto França Silveira, morador da Zona Sul; o
Senhor Jaime Rodrigues, Presidente do Instituto de Planejamento e Estudos
Socioambientais – IPES –; o Vereador Professor Garcia; a Senhora Patrícia
Longhi, moradora do bairro Jardim Isabel; a Senhora Tânia Faillace, Delegada da
Região de Gestão de Planejamento nº 01 do Fórum de Planejamento da Secretaria
Municipal de Planejamento; o Senhor José Álvaro Barreto Pereira, da Associação
Comunitária Icaraí I; o Senhor Sérgio José Becker, da Associação dos Moradores
do Centro; o Senhor Felisberto Seabra Luísi, da Organização Não Governamental
Despertar Coletivo; o Vereador Dr. Goulart; o Senhor Reinaldo Barradas Leiria,
da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul – SERGS –; o Senhor Roberto
Jakubaszko, da Organização Não Governamental Paralelo 30; o Senhor Franco
Werlang, do Conselho do Meio Ambiente de Porto Alegre; o Senhor Joelci Wolkmer,
morador do bairro Vila Assunção; o Senhor Henrique Ledur, do Centro Comunitário
de Desenvolvimento dos Bairros Tristeza, Pedra Redonda e Vila Conceição; o
Senhor Antônio Ruas, do Núcleo de Educação em Saúde Indígena – NESI –; o Senhor
Miguel Virgílio Petkovicz, morador do bairro Cristal; e o Vereador Adeli Sell.
Na ocasião, o Vereador Dr. Goulart formulou Requerimento verbal, indeferido
pelo Senhor Presidente, solicitando alteração do prazo de pronunciamento dos
participantes, tendo se manifestado a respeito o Vereador Professor Garcia. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra,
para as considerações finais acerca do tema em questão, aos Senhores Jorge Debiagi,
Maria Madalena Rossler e Lauro Rossler. Também, o Senhor Presidente manifestou-se
acerca do assunto abordado na presente Audiência Pública. Às vinte e três horas e quatro minutos, nada mais
havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos da
presente Audiência Pública. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador
Sebastião Melo e secretariados pelo Vereador Ervino Besson. Do que eu, Ervino
Besson, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata, que será
assinada por mim e pelo Senhor Presidente.
O SR.
PRESIDENTE (Sebastião Melo): Boa-noite, sejam bem-vindos à nossa Casa para mais
uma Audiência Pública, de tantas que esta Casa tem produzido ao longo de sua
história, especialmente neste ano.
Ainda há alguns lugares para acomodações aqui na
parte de dentro do plenário. Portanto, convido a todos aqueles que ainda não
tomaram seus assentos que utilizem também os espaços da parte de dentro do
plenário da Câmara.
Quero
aqui, em nome da Mesa Diretora, dizer que, tão logo chegou o Requerimento
assinado pela Srª Madalena Superti Rossler, do Clube de Mães do Cristal, e pelo
Conselheiro da 5ª Região de Planejamento, o Sr. Alex Sandro Souza, solicitando
esta Audiência Pública, a Mesa prontamente deferiu e só não fez esta Audiência
no mês de julho porque a Câmara estava em recesso, mas agora, no reinício dos
trabalhos do Legislativo, estamos aqui para produzir esta Audiência.
Quero passar à leitura do seu edital (Lê.):
“Audiência Pública com objetivo de debater o Projeto de Lei do Legislativo n°
06/08, Processo nº 2.486/08, que classifica como Empreendimento de Impacto de
Segundo Nível o projeto de revitalização urbana do trecho da orla do Guaíba
localizado na UEU 4036, denominado Pontal do Estaleiro, e dá outras
providências.
“O Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre,
no uso de suas atribuições legais, comunica à comunidade porto-alegrense a
realização de Audiência Pública, a pedido do Clube de Mães do Cristal, no dia
06-08-08, às 19h, no Plenário Otávio Rocha, da Câmara Municipal de Porto
Alegre, sito na Av. Loureiro da Silva 255, Centro, com objetivo de debater o
Projeto de Lei do Legislativo [...], que classifica como Empreendimento de
Impacto de Segundo Nível o projeto de revitalização urbana do trecho da orla do
Guaíba localizado na UEU 4036, denominado Pontal do Estaleiro, e dá outras
providências. Gabinete da Presidência, 1° de julho de 2008.” Este é o edital.
Há algum representante da Secretaria de
Planejamento Municipal no plenário? (Pausa.) O Sr. Secretário Ricardo Gothe.
Senhores, eu convido para a composição da nossa
Mesa de trabalho a Srª Maria Madalena Superti Rossler, que é uma das
requerentes, é Presidenta do Clube de Mães do Cristal, convido-a a compartilhar
a Mesa de trabalho aqui conosco. Seja muito bem-vinda, Dona Maria Madalena.
Convido o Arquiteto Jorge Debiagi - que num segundo momento vai fazer a
exposição do projeto - a compor a Mesa de trabalho também.
Registro a presença da Srª Maria Dolocaps, representante da Secretaria Estadual
de Administração; do Sr. Edir
Domeneguini, sejam muito bem-vindos; do Diretor de Patrimônio do Estado;
do Arquiteto José Luiz Valim Alves,
representante da Secretaria Municipal de Obras e Viação, da Divisão de
Edificações; do Administrador José
Artur Horhn, representante do Conselho Municipal de Ciência e
Tecnologia; do Sr. Luiz Cunha, representante da PROCEMPA. Encontram-se neste plenário as Vereadoras Neuza
Canabarro, Maristela Maffei, Margarete Moraes e os Vereadores Dr. Goulart,
Guilherme Barbosa, João Carlos Nedel, Elói Guimarães, Professor Garcia. Se
outros colegas Vereadores chegarem, peço a gentileza de a nossa Assessoria
comunicar à Mesa. Temos também a presença de Movimentos em Defesa da Orla do
Guaíba, de Organizações Não-Governamentais, das Associações de Bairros. À
medida que as representações forem fornecendo seus nomes à nossa Assessoria de
RP, a Presidência fará as devidas leituras. Solicito àqueles que aqui chegaram
e que estão representando algum órgão, alguma entidade, que façam o favor de
declinar seus nomes para Assessoria.
Vou
citar aqui as regras da Audiência Pública: neste primeiro momento,
franquearemos a palavra aos requerentes no prazo de até vinte minutos, para que
a Srª Presidenta - talvez V. Sª queira dividir o seu tempo - possa sustentar as
razões pelas quais levou a entidade a fazer o pedido de Audiência Pública. Em
ato contínuo, a Mesa vai conceder o mesmo prazo para quem representa os empreendedores,
para que possa fazer a sustentação, expor as razões do empreendimento aqui ora
discutido. Neste momento abro as inscrições perante a nossa Diretoria
Legislativa para que as entidades possam se inscrever. Evidentemente vamos ter
um equilíbrio entre aqueles que entendem que têm questionamentos sobre o
empreendimento e aqueles que sustentam o empreendimento; então vamos tentar
manter um equilíbrio.
A
Mesa também quer, de pronto, dizer que o Plenário, para nós, é a razão maior
dos nossos encaminhamentos. Tenho presidido muitas Audiências Públicas nesta
Casa e fora dela e sempre procurei fazer com que todos pudessem dar a sua
opinião. Então, se depender da Presidência, se o quórum der garantia para isso,
não teremos problemas de estender além daquilo que diz o nosso regramento de
Audiência Pública. Quero assegurar isso de pronto. Portanto as inscrições estão
abertas, vamos ter equilíbrio de forma coletiva ao conduzir os trabalhos para
um melhor desdobramento.
Digo mais: fica garantido que, se o tempo aqui dado
não for o suficiente, se os debates não se esgotarem, a Presidência vai
garantir a continuidade desta Audiência, porque achamos que este tema é de
extrema importância para a nossa Cidade. Quero dizer que para nós a democracia
tem vários pilares, mas o maior deles é o bom contraditório, respeitando as
diferenças. Esta Presidência, juntamente com os cinco membros da Mesa, com os
Líderes de Bancada, tem procurado não só neste tema mas em todos temas garantir
o contraditório nesta Casa, que é um de seus pilares fundamentais.
De imediato concedo a palavra à Presidenta - se a
senhora quiser, poderá usar a tribuna ou o microfone aqui -, para, no prazo de
até vinte minutos, sozinha ou dividindo, fazer a sustentação. Muito obrigado
pela presença de todos.
A SRA. MARIA MADALENA SUPERTI ROSSLER: Boa-noite a
todos e a todas. Ao cumprimentar o Sr. Presidente, Ver. Sebastião Melo, pelo
apoio na realização desta Audiência, com amparo na lei, aproveito para saudar
os Vereadores, os representantes do Governo e demais autoridades aqui
presentes.
O meu nome é Maria Madalena Superti Rossler, sou
Presidente do Clube de Mães do Cristal, entidade que tem sede e atua no bairro
Cristal há 37 anos, com ações sócio-culturais e assistenciais. Mantemos
delegadas no Fórum do OP, no Fórum do Planejamento R-5 do Plano Diretor e na
temática da Cultura, em que demandamos oficinas para a região em parceria com a
Descentralização da Cultura. Além da parceria com a Secretaria Municipal da
Cultura, que vem de oito anos atrás, também se faz presente a parceria com a
FASC. Só para especificar, com uma oficina, menciono a literatura já publicada:
no ano de 2000, um livro de poemas; no ano de 2006, outra publicação, o
“Quartos de Cristal”; e, em 2007, a revista-fotonovela “Memórias de um Lugar”,
com três histórias sobre o Bairro, e uma delas retratando a história do
Estaleiro Só, além de outra relativa à primeira figueira, de 450 anos, adotada
através do Decreto Municipal pela nossa Entidade, o que demonstra a nossa
vocação pela defesa do meio ambiente. Faço este pequeno histórico para dizer
que nos sentimos parte credenciada da comunidade para encaminhar esse pedido de
Audiência Pública, que foi discutido e aprovado em Assembléia e também no Fórum
do Planejamento da Região 5 do CMDUA, em reunião de 05 de junho passado.
O nosso Bairro está em ebulição, temos muitos
problemas a resolver com o Projeto Socioambiental: assentamento de pessoas,
problemas viários, etc. Com a inauguração do Museu Iberê Camargo e a seguir com
o BarraShopping - que se diz um dos maiores da América Latina -, como ficará o
Estaleiro desativado há 21 anos, que, até pouco tempo, se transformou num lixão
a céu aberto, que sempre impediu o acesso da população ao lago? Agora, pelo
menos, há uma expectativa de solução com o projeto em discussão - o Pontal do
Estaleiro. Tivemos a oportunidade de ver o projeto há cerca de dois anos e,
agora, atualizado, pareceu-nos alentador, pois, além de outras qualidades,
mantém uma distância média de 55 metros da beira do Guaíba, junto ao qual haverá
uma ciclovia e, ao longo, apresentará uma esplanada moderna, que possibilitará
a apreciação do nosso lago. Estamos aqui para rever o projeto e possibilitar
que outras pessoas ouçam e opinem de forma propositiva, com base consistente e
viabilidade legal e econômica. Repele imaginar a continuidade daquele espaço em
ruínas, depreciando o Bairro, em contraste com a modernidade do Museu, do
BarraShopping e do nosso tão admirado pôr-do-sol.
Neste momento vou dividir o meu espaço com o Lauro,
que representa o Conselho do Plano Diretor.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Registramos a
presença da Verª Sofia Cavedon, do Ver. Carlos Todeschini; do Valter,
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, entre tantas
outras representações que aqui se encontram.
O Lauro Rossler está com a palavra e vai prosseguir
com a sustentação.
O SR. LAURO ROSSLER: Exmo
Presidente da Câmara, Ver. Sebastião Melo; Arquiteto Debiagi, empreendedor do
projeto que ora se discute; Madalena; demais Vereadores presentes - em bom
número, para satisfação de todos nós -, todas as lideranças comunitárias,
integrantes de conselhos; senhores e senhoras moradores do Cristal, da Tristeza
ou dos bairros adjacentes que nos honram com suas presenças. A minha presença
aqui, acompanhando a Madalena, se prende ao fato de eu também representar o
Clube de Mães na condição de Consultor do Clube de Mães...
(Interferência da Rádio-TV Câmara.)
O SR. LAURO ROSSLER: ... com o que
eu me sinto honrado, com a outorga ...
(Novamente a interferência da Rádio-TV Câmara.)
O SR. LAURO ROSSLER: Acresce ainda
eu estar representando o Fórum do Planejamento da Região 5 do CMDUA, do Plano
Diretor; sou Conselheiro Suplente em pleno exercício, em razão de o Titular se
encontrar licenciado por questões de trabalho, mas ele fez um esforço em estar
aqui presente, o que muito nos satisfaz, deverá até fazer o uso da palavra. Eu
gostaria de ouvi-lo.
Entendemos importante, antes de fazer alguma
análise sobre o projeto, abordarmos alguns aspectos de Direito, embora de forma
despretensiosa, os quais, tenho convicção, virão provocar algumas reflexões
para formar um melhor juízo, uma tomada de posição sobre o projeto. A questão
toda que se discute envolve o meio ambiente e o Impacto de Vizinhança. Esses
são os fulcros da questão, mas existem uma série de outras questões: econômica,
social. Mas vamos nos ater a essas duas. Pois bem, sendo o Brasil um Estado
Democrático de Direito - esse é o primeiro princípio consagrado na Constituição
Federal -, tudo isso que se discute é pautado pela ciência do Direito. Se
combinarmos dispositivos do Código Civil com a Constituição Federal - evitei
trazer o Código Civil e a Constituição Federal, porque eu ficaria manuseando e
ficaria muito chato - e também com a lei que criou o Conselho Federal do Meio
Ambiente, uma lei de 1981, chegaremos ao conceito de meio ambiente,
classificado em natural, cultural, artificial e do trabalho. Esses são os
quatro pilares a que esses dispositivos legais, combinados, chegam. O tempo não
nos permite que nos estendamos conceitualmente a cada um deles. Farei a
abordagem em apenas dois aspectos: o meio ambiente natural, que é formado
principalmente pelo solo e pelas as águas. Claro que nós temos solo, subsolos,
o espaço aéreo, as águas externas, as águas internas; nas águas internas estão
nossos rios, o nosso lago Guaíba.
O art. 79 do Código Civil define como bens imóveis
o solo e tudo o quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente. No
conceito ampliado, o solo é a superfície da Terra, a que se adicionam o
subsolo, as árvores, as construções, as plantações, o espaço aéreo para compor
um bem de natureza imobiliária. O meu ambiente artificial é construído pela
ação humana que transforma espaços naturais em espaços urbanos; sendo assim, na
interpretação do nosso Direito Constitucional, o meio ambiente artificial se
constitui pelo conjunto de edificações, equipamentos, rodovias, avenidas e
demais elementos que formam o espaço urbano construído. Por esse conceito, os
espaços urbanos podem ser fechados, caracterizados pelo conjunto de
edificações, e abertos, caracterizados pelos espaços públicos. Fazendo uma
interpretação integrada dessa exposição com o projeto Pontal do Estaleiro, com
vista à alteração da lei, chega-se à conclusão de que não será afetado o meio
ambiente, dadas as características do empreendimento.
Por
tudo o que foi exposto, pelo que será esclarecido ainda, bem como pelas
sugestões que virão - e que se esperam propositivas, como, por exemplo, a
possibilidade de uma flexibilização proposta pelo Legislativo, no sentido de
uma diminuição razoável das alturas dos prédios, em torno de uns dois
pavimentos, e, quem sabe, alguma outra compensação de ordem material para um
bairro tão carente como é o Cristal -, o Impacto de Vizinhança é praticamente
nulo. Os prédios mais próximos, após a curva da Av. Padre Cacique, logo que
passa o Museu, à esquerda - são aqueles prédios antigos ali, de três, quatro
pavimentos -, estão distando sessenta, setenta metros do futuro empreendimento
Pontal do Estaleiro, razão pela qual se entende que não haverá sombreamento,
não haverá problema de trânsito para aqueles moradores, porque está
afastando-se alguns metros, já próximos à Av. Chuí. O empreendimento receberá
uma carga de tráfego direto na avenida, de vinte metros, cerca de seiscentos
metros, parece. Então, entendemos que não haverá Impacto de Vizinhança, nem de
barulho, nem de sombreamento - algo que nós muito debatemos lá no CMDUA, há
empreendimentos que tiram o sol e a aeração dos vizinhos que estão por lá já há
vinte, trinta, quarenta anos, são pessoas que têm o valor dos seus imóveis
diminuídos em função de certas construções, de certos empreendimentos.
Nos
tempos modernos, não se admitirão novos investimentos sem a correspondente
responsabilidade social. Trata-se do uso social da propriedade, ao qual alude a
Constituição Federal, em cuja observância devemos confiar, e deve esse
empreendimento consagrar. E essa consagração do dispositivo maior da
Constituição também está incorporada nas legislações dos Estados, dos
Municípios e, especialmente, na Lei do Plano Diretor.
A
situação em exame é um caso concreto e singular - quero chamar bem a atenção de
todos - de alguém que investiu, mediante o arremate da gleba, em leilão e
pretende lucrar com o investimento. Aliás, foi a única forma para possibilitar
que os ex-funcionários e operários do Estaleiro Só recebessem a indenização a
que têm direito da massa falida. É uma expectativa, é um sofrimento de longos
anos para esse operariado do Estaleiro Só, que receberam, até agora, somente
uma parte, devido a burocracias legais com a massa falida. Eles estão
aguardando o recebimento, receberam apenas uma parte da indenização.
Eu quero ainda acentuar as compensações de ordem
social que poderão advir do empreendimento, como, por exemplo, utilizar essa
legião de mão-de-obra desempregada, essa legião de desempregados que o bairro
Cristal possui. E também outra coisa que muito me preocupa como ex-professor é
esse contingente de adolescentes, jovens que saem da escola de 2º Grau sem qualificação,
sem perspectiva de emprego, porque nem todos vão conseguir um estágio de melhor
qualidade. Então, empreendimentos como esse do Pontal poderiam perfeitamente
absorver 30%, 40%, 50% da mão-de-obra, desde que fosse oportunizado aos jovens
uma pré-qualificação e posteriormente uma qualificação. Há carência até de
engenheiros, há carências na obra do BarraShopping, por exemplo, de marceneiro,
de eletricista, de pedreiros. Então, é importante que a responsabilidade social
desses empreendimentos atinja esses segmentos sociais no Cristal, na Vila
Cruzeiro, na Santa Tereza e nos bairros limítrofes. Outra contrapartida
importante, outra compensação importante que o empreendedor poderia dar é o
compromisso de dar empregabilidade à mão-de-obra ociosa e desempregada do
Cristal e adjacências.
Outra
questão que eu gostaria de abordar é que empreendimentos como esses, que estão
acontecendo no Cristal, como o BarraShoppingSul, o empreendimento do Pontal do
Estaleiro, vão acarretar um problema muito sério de trafegabilidade no Cristal,
no sistema viário. Eu tenho certeza de que, com esses investimentos que lá
estão acontecendo, finalmente nós teremos mais condições de pressionar -
teremos, eu digo, a Câmara de Vereadores, a comunidade, os moradores do bairro
Cristal - o Governo, para que faça mais investimentos no Plano Viário. Nós
temos ali uma só saída para o Centro, que é a Av. Pinheiro Borda, que está
saturada. Não nos basta acenar com a duplicação da Av. Beira-Rio até o Estádio
do Internacional, não, porque dali, passando pelo Museu Iberê Camargo, nós já
estamos com uma situação afunilada, prestes ao caos, e vai ficar muito pior.
Então, a solução definitiva é a abertura da Av. Divisa, e isso está pautado
desde antes do primeiro Plano Diretor; olha, gente, há mais de trinta anos!
Trata-se da abertura da Av. Divisa, para conectá-la com a Av. Cruzeiro do Sul;
é uma avenida que está prevista no primeiro Plano Diretor, de 45 metros de
largura, para o bairro Cristal, a Ponta e toda a orla e os bairros Tristeza e
Menino Deus, enfim, poderem ter uma saída para a Zona Leste e para a Zona
Norte. Essa é a solução definitiva do problema viário, que vai ficar muito
agravado, senão caótico, com esses empreendimentos.
Para encerrar, eu quero dizer que nós não queremos,
não permitiremos que a nossa orla do Guaíba se transforme em uma Copacabana ou
em uma Camboriú, com cortina de ferro e cimento. Compete à Câmara de Vereadores
e também a nós exercermos o controle público e social para que isso seja
realidade. Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Agradeço ao
Lauro e também à Dona Madalena pelas manifestações. Quero registrar a presença
dos meus colegas Vereadores Ervino Besson, Carlos Comassetto, Adeli Sell,
Maurício Dziedricki e Beto Moesch. Também nos honra com a sua presença o Sr.
Daniel Antoniolli, Presidente do Sindicato da Hotelaria e Gastronomia de Porto
Alegre, seja bem-vindo; o Sr. Hilton de Assis, assessor comunitário,
representando o Departamento de Esgotos Pluviais.
Agora concedo a palavra ao representante dos
empreendedores, o Arquiteto Jorge Debiagi, que terá o mesmo tempo para fazer
sua sustentação, e, logo em seguida, estaremos concedendo duas falas às
representações da sociedade, intercalando com as inscrições dos Srs.
Vereadores, permitindo que todos se manifestem pelo tempo de cinco minutos. As
inscrições da representação da população já foram feitas; eu peço, então, que
os Vereadores procurem a Mesa para as suas inscrições.
O Arquiteto Jorge Debiagi está com a palavra.
O SR. JORGE DEBIAGI: Sr. Presidente
da Câmara, Ver. Sebastião Melo; Srª Presidente do Clube de Mães, Maria
Madalena; Sras Vereadoras e Srs. Vereadores, autoridades presentes,
senhores representantes da imprensa, senhoras e senhores, é com muito prazer
que mais uma vez apresento o projeto Pontal do Estaleiro, o qual já foi
apresentado mais de sessenta vezes a várias comunidades, sendo que venho a esta
Casa, à Câmara de Vereadores, nesta Audiência Pública, com muito prazer; é um
prazer para um arquiteto ter a oportunidade de apresentar um projeto, e este
momento está sendo de muita alegria para mim.
O projeto do Pontal do Estaleiro ainda não é um
projeto, é um estudo, porque depende justamente da aprovação de uma modificação
legal. Ele não nasceu do nada, nasceu de uma lei que emanou do Poder Executivo,
da Lei nº 470, que prevê a ocupação daquela área dando um regime urbanístico
após a falência do Estaleiro Só. Esse regime urbanístico, quando encaminhado do
Executivo para a Câmara, veio com uma zona mista, assim ele se consolidou nesta
Casa, e foi tirada a palavra “residencial”. Portanto, existe uma lei, que é do
Município, votada nesta Câmara, prevendo a construção de edificações naquele
local. Edificações que podem ser para serviços, para logística, para comércio,
para prédios de escritórios. Claro, um projeto dessa envergadura, um Projeto
Especial sempre passaria pelo crivo dos órgãos da Prefeitura para receber as
diretrizes, para ter aprovado o seu Estudo de Viabilidade Urbanística e
Relatório de Impacto Ambiental, para posteriormente ser licenciada a volumetria
a ser indicada. Quando eu falo em volumetria, estou falando em volume, não
estou falando nos metros quadrados construtíveis, nem na altura dos prédios,
também definida pelo próprio EVU.
Bem, o nosso projeto, o nosso estudo, primeiro
atendeu à legislação vigente; poderíamos ter feito os prédios exclusivamente
para edificações de escritórios, assim poderíamos licenciá-lo. Os meus
contratantes, os empreendedores que compraram a área, entendiam que teria que
ser uma zona mista, como de sorte era a primeira lei. O primeiro Projeto de Lei
previa uma zona mista, com alturas a serem definidas através de um Estudo de
Viabilidade Urbanística. Aliás, a maior parte dos Projetos Especiais tem essa
característica: são definidas alturas e a forma de ocupação através desse
Estudo.
Então, nós encaminhamos à Prefeitura, em 2006, um
pedido de diretrizes urbanísticas, um processo normal, um processo como todos
os projetos percorrem na cidade de Porto Alegre. Essas diretrizes foram
submetidas à Cauge, que é uma Comissão que agrega todos os órgãos que aprovam
projetos no Município de Porto Alegre: Secretaria do Planejamento, SMAM,
Departamento de Águas Pluviais, EPTC, SMOV e assim por diante. Então o universo
daqueles que dão as diretrizes se reúnem na Cauge. Essas diretrizes foram
fornecidas por uma série de exigências, tiveram a base de um primeiro estudo.
Há várias diretrizes, como, por exemplo, a da SMAM, que diz que deve ser
preservada a orla, que o empreendimento deve estar afastado no mínimo 50
metros, que é a linha ambiental das margens do rio. A EPTC disse: “Nós queremos
uma alternativa à Av. Padre Cacique, queremos uma rua com 20 metros de largura
que ligue a Av. Padre Cacique à Av. Diário de Notícias”. O DEP fez as suas
observações, a Secretaria do Planejamento fez as suas e assim por diante; e
determinaram, finalmente, a volumetria, permitindo um regime de alturas de 43
metros, que é a altura que corresponde ao topo do morro adjacente que
circunvizinha aquela região, o que corresponde também às alturas das
edificações vizinhas. Esse critério tem sido obedecido em toda a Cidade, e
assim foi.
Bem, como se trata de uma área de 60 mil metros
quadrados, resultou dessas diretrizes um empreendimento vai proporcionar uma
área pública de 3,3 ha às margens do rio. Dizem: “Tem que afastar 30, tem que
afastar mais 20, tem que afastar 50...” Como ao longo do rio tem de se fazer
uma avenida, então acabou que, da área total do sítio, que é de 6 ha, serão
doados ao Município 3,3 ha - doados ao Município, devolvidos ao Município. Ou
seja, são 53% dessa ordem que serão alocados à vida pública. Uma área que hoje
não existe publicamente, uma área que, por muitos anos, foi ocupada por uma
indústria naval, pois aquela área tem a característica física de um porto.
Então, o Projeto obedece rigorosamente aos limites dessa área, doando mais de
52%, ou seja, mais ou menos 3,3 ha, para o Município, através de um projeto que
está determinado pelas diretrizes.
O que dizem as diretrizes? As diretrizes dizem que
tem que se fazer um parque à margem do rio. Então nós estamos fazendo um parque
à margem do rio. Temos que fazer uma rua de 20 metros de largura, com 600
metros de comprimento; estamos fazendo, já está proposta a rua. Nós temos ali
um píer que tem 150 metros, que adentra o rio, onde eram construídos os navios.
Esse píer vai passar a ser público. Era um píer que não tinha acesso e terá
acesso público. Nesse píer o projeto prevê a localização, num segundo
pavimento, de bares, restaurantes, centros de convivência, que é para tornar
aquela área uma área...
O SR.
PRESIDENTE (Sebastião Melo): Dr. Debiagi, só uma questão de ordem: para uma
melhor acomodação das pessoas presentes, estou solicitando que a Assessoria
traga mais algumas cadeiras. Então, os senhores que estão aí de pé podem
acessar aqui e assistir à Audiência com mais comodidade. Solicito que as
cadeiras sejam colocadas aqui na frente também. Muito obrigado.
O SR. JORGE
DEBIAGI: Dando continuidade, o estudo que nós vamos apresentar às Sras
Vereadoras e aos Srs. Vereadores corresponde às diretrizes emanadas do
Município. Nós não estamos inventando algo que não seja aquilo que veio do
Município, que o Executivo determinou como sendo uma viabilidade de ocupação
daquele território da Cidade. Como esse procedimento teria que vir
obrigatoriamente para a Câmara de Vereadores, para fazer uma adaptação na Lei
nº 470, incluindo a palavra “residencial”, que é a razão desta Audiência, foi
feita toda a tramitação, e aqui chegamos, então, para a definição das Sras
Vereadoras e Srs. Vereadores, ou seja, se vão julgar conveniente ou não a
proposta.
Eu vou apresentar as imagens, explicando ponto por
ponto, do que está sendo proposto. (Apresentação
simultânea de datashow.) Eu peço que o Dani apresente a margem do rio...
Eu omiti um tema: antes, foi retirado o aspecto residencial, porque a área não
tinha proteção contra as enchentes, agora o projeto prevê a proteção contra as
enchentes fazendo este dique, sobre o qual está localizada a rua à qual fiz
referência. Nós temos a rua sobre este dique, aqui tem um talude, temos aqui
uma ciclovia interligada à ciclovia que o Município vai construir ao longo do
projeto que está sendo executado pela Secretaria do Planejamento, de
aproveitamento da orla do Guaíba de uma forma mais adequada. Aqui nós temos a
grande esplanada, que tem 30 metros de largura até o rio, que é uma área - vou
fazer referência de novo - absolutamente pública, não só pública de uso público
como será doada para o setor público, de domínio do setor público. Isto é muito
importante que seja frisado: é uma área que está sendo doada por força de lei e
por força deste projeto ao Poder Público, para uso totalmente público.
Portanto, essa região que hoje está vedada ao uso público passará a ter uso
público. Nós passaremos a ter a possibilidade de usufruir dessa área para
assistir ao pôr-do-sol, para pescar, para brincar, para encontrar com os
amigos, porque será uma área pública.
Lá ao fundo nós temos
um píer, o qual nós vamos, no decorrer da demonstração, mostrar. Esta aqui é
uma visão da área pública, da esplanada pública, como de sorte existe em outras
cidades em todo o mundo, uma visão para o norte onde está a área central da
nossa Cidade. E aqui estão as edificações propostas nesse conjunto.
Aqui nós temos, no
primeiro plano, uma marina pública e, lá atrás, está o píer, onde eram
construídos os navios, são 150 metros por 12 metros de largura, para onde
estamos propondo a localização de restaurantes, de lugares de convivência, de
bares, cafés, enfim, o Museu do Estaleiro, eventualmente o Museu da Água. Estamos
propondo aqui também essa atividade pública, que, somada ao Museu Iberê
Camargo, deve se tornar uma polarização interessante. Aqui nós estamos
ilustrando com um pequeno navio. Nesse píer eram construídas grandes embarcações
- navios até de 150 metros de comprimento eram montados nesse porto. Estamos
prevendo a possibilidade, no projeto, de haver áreas turísticas: navios que
possam passear pelo lago, barcos que possam pegar e largar seus passageiros
ali, que possam ser transportados para Guaíba, que possam ser transportados...
Assim, um porto livre. Não temos um porto livre em Porto Alegre dessa
qualificação. Então, isso é uma coisa que consideramos absolutamente
importante.
Para este local estamos sugerindo uma ponte, porque
aqui embaixo desta instalação... Esses são espaços determinados pela história
do Estaleiro, aqui há as carreiras onde eram montados os navios. Essas
carreiras são peças de madeira simplesmente fantásticas. Vamos preservar essas
madeiras, essas carreiras, e propor essa pequena ponte para que as pessoas
possam, através de placas ilustrativas que expliquem a história daquele local,
verificar que ali foram construídos navios, onde existia uma poderosa indústria
naval, que infelizmente não sobreviveu.
Aqui um outro aspecto, é como se estivéssemos ali
nas proximidades do Museu Iberê Camargo, com prédios. Os prédios têm térreo
mais doze pavimentos, portanto são prédios abaixo da cota que foi dada como
diretriz.
Essa é uma outra visão. Aqui é uma visão de conjunto,
uma foto vista daquele morro que está ali atrás, onde temos esta rua que vem da
Av. Padre Cacique, que tem continuidade na Av. Padre Cacique, dá a volta e vai
sair lá adiante na Av Diário de Notícias. E a esplanada à qual fiz referência,
mais uma rua paralela à Av. Padre Cacique, que fica também pública, que
facilita a locomoção de pessoas que tenham acesso a esse conjunto. Aqui os
prédios que são de unidades habitacionais e os prédios para comércio e
serviços. Temos aqui uma visão da Av. Diário de Notícias; um prédio de
escritórios, também com térreo e mais doze... Aqui temos um prédio de flats,
em cuja base e no interior desses prédios, no térreo, vamos ter também lojas de
conveniências, vamos ter um lugar de convívio, vamos ter um lugar de encontro,
que, juntamente com uma esplanada, vão proporcionar o uso público, em que pese
estar na área, essa, sim, privada, mas que será aberta ao uso público. Então,
esse lugar estará conjugado com este outro lugar, que é o espaço para
convivência, sobre o píer, e interligados por vias de pedestres, passarelas,
passagens que vão ligar um prédio ao outro. A idéia que nós temos com o projeto
é de criar, na verdade, um grande centro de conveniências da cidade de Porto
Alegre, da Região, um centro que proporcione visitação turística, que
proporcione uma nova visibilidade para Porto Alegre, que proporcione uma
visibilidade moderna para a nossa Cidade. O conjunto do Estaleiro Só, com o
Museu Iberê Camargo mais a obra do BarraShopping,
que está sendo realizada, certamente trarão uma característica
singular para a nossa Cidade, uma característica moderna, como outras cidades
brasileiras estão fazendo e conquistando, a exemplo de Florianópolis, com as
suas vias às margens do mar, que são simplesmente fantásticas! (Pausa.)
Aqui é uma transparência que nos foi solicitada
também, das diretrizes: que os térreos destes prédios fossem transparentes.
Tudo bem, nós estamos fazendo os térreos transparentes. Não precisaria, porque
as pessoas terão acesso livre ao rio, acesso livre à paisagem, mas, de qualquer
maneira, aquelas pessoas que passarem de carro pela Av. Padre Cacique - e hoje
há um muro de 200 metros que barra a visibilidade para o rio - terão, através
dos pilotis desses prédios, a possibilidade de enxergar o pôr-do-sol.
(Pausa.) Esta é para ilustrar esse aspecto do
trabalho. (Pausa.)
Temos aqui uma visão do conjunto, em que nós
podemos ver a extensa área pública à margem do rio. É extensa a área pública à
margem do rio, são 3,3 hectares. Poucos parques em Porto Alegre têm uma
dimensão como essa e com 60 metros de largura.
Outro detalhe que eu quero salientar - ele vai
aparecer nas fotos seguintes, mas vou me adiantar - é que os nossos prédios
estão localizados... Este prédio está localizado a 60 metros do rio; este
prédio está localizado a 85 metros do rio. Os senhores sabem a quantos metros
do rio está localizado o Museu Iberê Camargo? A 37 metros. A Avenida que
contorna o bairro Vila Assunção está a 35 metros; a Avenida que percorre
Ipanema a 37 metros; a Av. Mauá a 55 metros. Portanto, estamos enquadrados
perfeitamente, não estamos ocupando um espaço que seria do uso típico das
pessoas, com toda a liberdade.
Aqui tem uma visão aérea em que mostramos, num
primeiro plano, estes prédios, que são os prédios destinados a flats e
escritórios, em cuja base há um nível de convivência. Aqui está a rua que liga
a Av. Padre Cacique; vem por aqui, chegando até a Av. Diário de Notícias.
Depois temos uma visão completa e as demais áreas públicas.
Esta outra visão mostra a dimensão pública deste
espaço: são 33 mil metros quadrados, 3,3 hectares que serão doados ao
Município. Portanto, não estamos tirando a possibilidade de as pessoas chegarem
à margem do rio, como por vezes temos recebido algum tipo de notícia.
Aqui uma visão para relacionar o Museu Iberê
Camargo, ao qual fiz referência, a um espaço que estamos criando, com os
prédios existentes, mostrando a altura e a harmonização que tem esse projeto,
no meu entendimento, com esse espaço todo.
Aqui um outro aspecto, numa visão mais ampla,
mostrando o conjunto; lá, ainda, a construção do BarraShopping e a Av. Diário
de Notícias.
Mais uma vez, o píer. Este píer está
integrado à explanada, é um píer público; as pessoas que hoje entram lá para
pescar vão continuar entrando para pescar de uma forma absolutamente livre, e
as pessoas que porventura estiverem em passeio turístico vão poder usar este
espaço aqui para realizar os seus passeios.
Eu acho que essas são as imagens. Muito obrigado,
senhoras e senhores. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Agradeço ao
Arquiteto Jorge Debiagi.
Registro a presença também do Ver. João Antonio
Dib; da Srª Rita Carnevale, Presidenta do Conselho Municipal de Ciências e
Tecnologia; da Drª Ana Maria Moreira Marchesan, que é Promotora de Justiça do Meio
Ambiente, seja bem-vinda, a senhora que deu tantas contribuições à área do meio
ambiente.
Vamos começar as nossas manifestações. Serão 21
inscrições no plenário, fora as manifestações dos Srs. Vereadores, acho
importante que o público possa permanecer até o final para que a gente possa
fazer os encaminhamentos.
O Sr. Paulo Guarnieri, representante da Associação
dos Moradores do Centro de Porto Alegre, está com a palavra pelo tempo de cinco
minutos.
O SR. PAULO GUARNIERI: Cumprimento o
Sr. Presidente, Ver. Sebastião Melo e, ao cumprimentá-lo, cumprimento a Mesa,
as Vereadoras e os Vereadores presentes. Cumprimento o Clube de Mães do Cristal
e demais entidades presentes. Sou representante da Associação dos Moradores do
Centro e participante do Fórum de Entidades. Coube-me fazer o questionamento
acerca da mobilidade urbana.
Então, Arquiteto, nós sabemos que muitos projetos
estão sendo preparados para serem implantados ao longo do eixo viário que serve
a Zona Sul da Cidade. É preciso lembrar que, além do projeto em tela, o Pontal
do Estaleiro, existe a ampliação do Shopping Praia de Belas, a torre do
Tribunal Federal, o complexo Gigante para Sempre, o BarraShopping, o Cristal
Tauner, integrado ao último, além de projetos residenciais da Goldsztein e da
Maiojama. Convém destacar que somente o Projeto do Sport Club Internacional
inclui, além do próprio estádio de futebol, um complexo esportivo, um centro de
eventos, duas torres comerciais, shopping center, edifício-garage,
centro cultural e marina. Já existem ali implantados um espaço cultural e um
empreendimento comercial geradores de fluxo: o Museu Iberê Camargo e o Big
Center.
Considerando que o funcionamento conjunto dos
diversos empreendimentos possui um potencial de intenso fluxo viário,
perguntamos: existe uma simulação do fluxo sistêmico gerado pelos diversos
empreendimentos projetados que incidem no eixo viário sul da Cidade,
considerando, ao menos, os citados? Segundo, qual solução foi pensada para a
circulação do transporte coletivo de passageiros que serve a Zona Sul?
Terceiro, ao saturarmos o gargalo viário da Ponta do Melo, gerando um fluxo de
escoamento impossível, o que será mais apropriado: cortar o morro ou aterrar o
rio? Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Muito obrigado,
Guarnieri. Solicito que entreguem as perguntas formuladas à Mesa, para que elas
possam ser respondidas.
O Sr. Fernando Barth, Delegado da Região de
Planejamento 1, está com a palavra.
O SR. FERNANDO BARTH: Boa-noite, sou
Delegado da Região de Planejamento 1. Quero saudar os presentes. Vejo que a
Câmara está lotada em função do interesse de Porto Alegre nessa questão do
desenvolvimento da Cidade. Saúdo, além dos que aqui compareceram em número
expressivo, o Sr. Presidente da Câmara de Vereadores, Ver. Sebastião Melo;
demais componentes da Mesa; Srs. Vereadores que estão aqui presentes e demais
autoridades; quero saudar especialmente o Arquiteto Debiagi, que elaborou este
projeto bem interessante: o Pontal do Estaleiro.
Esta Cidade está buscando um rumo; ela foi a
terceira cidade brasileira após o Rio de Janeiro e São Paulo, ali pelas décadas
de 40 e 50... Hoje Porto Alegre já está em oitavo lugar. Esta Cidade não vem
apresentando índice de crescimento na condição de terceira cidade brasileira e
se encontra na direção do décimo segundo lugar, de acordo com expectativas. Na
verdade, nós não estamos aqui no sentido de aprovar o projeto, ou para
considerá-lo conveniente ou não, mas ele é de extrema importância para o
desenvolvimento da Cidade, sem a menor sombra de dúvidas.
A única questão que eu gostaria de considerar, e já
o fiz com o Arquiteto Debiagi, diz respeito à questão viária desse
empreendimento, porque ele se soma a outros empreendimentos que estão
acontecendo na Cidade: o Cais do Porto, a Usina do Gasômetro, a OSPA; a área
gaudéria, que é usada uma vez por ano, que deveria ser transportada para
Esteio, porque a área gaudéria é uma excrescência aqui, deveria ser levada para
Esteio porque lá tem um aparato qualificado para cavalos e outros... Bom, e nós
temos também uma antiga luta para livrar a beira do rio, foi uma luta poderosa
com referência ao sambódromo - conseguimos que o sambódromo fosse levado para
um outro lugar. Nós temos o problema da implementação do complexo do
Internacional, o Museu Iberê Camargo, o Pontal do Estaleiro agora e o
BarraShopping. A Prefeitura e a própria Câmara de Vereadores devem considerar,
Sr. Presidente, o trajeto desde a ponte do Guaíba até a Praça da Tristeza,
considerar esse trajeto no sentido de via expressa.
A expressão “via expressa” tem que entrar no
vocabulário da Prefeitura e tem que entrar no vocabulário da Câmara de
Vereadores de Porto Alegre, porque nós não podemos imaginar uma Cidade para o
ano 2010 ou 2012 ou 2014, nós temos que pensar esta Cidade para o ano 2050 ou
2060 e até mais. Entre outras situações, esses investimentos pontuais... Porque
a Cidade está crescendo em função do lago Guaíba, e o lago é muito importante,
as pessoas tentam morar próximas ao lago, porque a vista é fantástica, e não há
nada de errado quanto a isso.
A questão “via expressa” é importante, e cada
empreendimento desses que eu citei, em função dessa via expressa, deve ter
entradas e saídas particulares, ou seja, devem ser evitadas, de todas as formas
possíveis e imagináveis, as rótulas que querem se situar frente a esses
empreendimentos. Esses empreendimentos não podem ter rótulas com acesso de
veículos, é o caso do BarraShopping, é o caso do Big, não é? Nós temos um
exemplo qualificado que é o Museu Iberê Camargo, no qual a pessoa entra e sai
sem causar qualquer problema ali.
Eu teria mais o que dizer, mas gostaria que ficasse
marcada a questão da via expressa e a maneira de entrar e sair dessa via,
porque o trânsito para a Zona Sul, da maneira que está sendo tratado, por um
sistema de puxadinhos... Estão emendando os puxadinhos, e, já terminando, digo
que isso vai inviabilizar o trânsito para a Zona Sul. Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Ver.
Guilherme Barbosa está com a palavra.
O SR. GUILHERME BARBOSA: Boa-noite, Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, Sras Vereadoras, Madalena, Lauro,
Debiagi, demais colegas Vereadores, Vereadoras, demais pessoas que nos
acompanham. É bonito ver a Câmara de Vereadores cheia, mostra a importância do
assunto que estamos abordando.
Aquele local, tenho dito várias vezes, é um local
especialíssimo da nossa Cidade, pela região, pela abrangência da sua paisagem,
pela situação, praticamente dentro do nosso querido Guaíba e assim por diante.
Então, queremos que aquele espaço esteja qualificado. Acho que para isso há
unanimidade entre nós. Talvez, com o debate e a divergência, seja a maneira de
fazer isso; seja a maneira de fazer o projeto que devemos ter para aquele
local. E devemos sair, Lauro, da polêmica de ou é esse projeto ou não é nenhum.
Não pode ser assim! Se não for esse, pode ser outro, sim, porque a Câmara de
Vereadores e a população de Porto Alegre assim o definem.
O Plano Diretor, no seu art. nº 61, diz claramente
como se enquadram os projetos no Impacto Urbano de Primeiro Nível ou de Segundo
Nível - claramente. No projeto de Primeiro Nível, ele diz que estão os
loteamentos e empreendimentos em áreas, lugares e unidades de interesse
cultural. Portanto, a primeira questão que surge: por que um Projeto de Lei vai
definir esse projeto como sendo de Impacto de Segundo Nível, se ele é,
explicitamente, pelo Plano Diretor, de Primeiro Nível? Sabem porquê? Está aqui
no Plano Diretor, que diz que os projetos de Primeiro Nível são aprovados no
Executivo. E eu sou um dos mais duros opositores ao Prefeito Fogaça, mas o
Prefeito agiu bem e não aprovou o projeto; apesar de ter parecer na área
técnica, o Prefeito Fogaça não aprovou, porque ele modifica muito aquilo que a
Lei Complementar nº 470 já definia.
Portanto, aparece um projeto aqui - não sei quem o
escreveu - para definir que ele é de Segundo Nível, porque o de Segundo Nível
precisa de lei, foi a saída que se buscou; já que o Prefeito não levou adiante
essas modificações que se pretendem, aqui se achou um canal. Mas o projeto
precisa ser aprovado e precisa ser enquadrado como de Segundo Nível. Nada disso
precisaria, porque o Plano Diretor já define o que é Primeiro Nível e Segundo
Nível.
Bom,
mas essa não é de fato a intenção do Projeto de Lei. A intenção do Projeto de
Lei é modificar os critérios existentes na Lei Complementar n° 470, que dizia
que o índice construtivo era um, que ali deveriam ser construídas edificações
de lazer, turismo e paisagismo, e, assim que a área foi adquirida pelos
proprietários no leilão, se quer ganhar, de repente, 50% de área construída.
Compraram o terreno com o índice construtivo I e agora querem ganhar, de
repente, 50% a mais para construir. Como assim? Qualquer pessoa da Cidade que
tenha um terreno vai querer também que a Câmara aprove 50% a mais para o seu
terreno. Se pode lá, pode em qualquer outro terreno da nossa Cidade. (Palmas e
manifestações nas galerias.) Podem vaiar, não há problema, nada me abate, da
mesma forma que o aplauso não me deixa gabola.
O
Projeto propriamente dito é um Projeto bonito, e eu já disse isso ao Debiagi,
mas são paredões de concreto. O Lauro se engana, as pessoas que moram no
entorno, nos prédios, nunca mais vão ver o Guaíba; aqueles apartamentos são
apartamentos muito caros, quem vai habitar lá são pessoas da burguesia, com
alto poder aquisitivo, e a população não vai circular por lá, porque vai estar
cheio de câmeras de segurança, vai estar cheio de segurança lá. Quem é que tem
barco para botar lá no ancoradouro? Quem tem barco? Vai ter um paredão. Quem
está ali naquela parte mais baixa nunca mais verá o morro, mudando
completamente a paisagem. Então, eu lamento que alguns colegas tenham assinado
isso. O Prefeito não entrou no jogo. Eu sou oposição ao Prefeito, mas ele não
entrou nesse jogo.
E, por último, chamo atenção ao seguinte: nesses
dez anos de Câmara, poucas vezes eu vi um Projeto com fotografia, no caso é
fotografia de projeto arquitetônico, e talvez os empreendedores não saibam, mas
nós estamos aprovando inclusive o projeto do Escritório Debiagi, porque anexo
ao Projeto de Lei está o projeto; se por acaso não quiser mais, esta lei não
vale, vai ter de aprovar outra lei, porque nós estamos aprovando novos regimes
construtivos para a área, além de um projeto arquitetônico. Eu nunca tinha
visto isso, é novidade. Então, eu sou contra o Projeto! Quero a revitalização
da Ponta do Estaleiro Só, mas com prédios mais baixos, menos concreto e, de
fato, com uma área que seja pública, porque, com o projeto, nós estaremos, de
uma forma indireta, privatizando o local. Muito obrigado. (Palmas e
manifestações nas galerias.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Sr. Eduíno de Mattos, do Fórum de Entidades do Plano Diretor, está com
a palavra.
O SR. EDUÍNO
DE MATTOS: Boa-noite a todos. Como o Presidente já falou, eu sou do Fórum de Entidades
da Câmara de Vereadores e sou Conselheiro do Plano Diretor de Porto Alegre.
Quero cumprimentar o Presidente, Ver. Sebastião Melo; o Lauro, a Madalena e o
Arquiteto Jorge Debiagi, que estão à Mesa.
Nós fomos
chamados aqui, um pequeno grupo de conservadores, e eu quero dizer aos senhores
e as senhoras que, se é para defender as leis, a qualidade de vida e o meio
ambiente de Porto Alegre, a orla do Guaíba, eu sou conservador, sim! Falar aqui
é muito fácil, falar em flexibilização. Nós temos de varrer essa palavra do
Plano Diretor de Porto Alegre; não pode mais acontecer isso aí! (Palmas.) Eu
não quero ser repetitivo aqui, o Ver. Guilherme Barbosa já falou em
qualificação da orla. Com concreto? Não. Nós precisamos que a população vá à
orla. Nós vamos tornar a orla balneável de acordo com o DMAE, o Socioambiental.
E aí como é que nós vamos chegar à orla do Guaíba, se ele é balneável? Nós não
vamos mais ter acesso. E a função social onde é que está? Fala-se muito aqui,
mostram-se fotografias bonitas; isso tudo aqui é virtual, pessoal, é virtual.
Isso estou acostumado a ver no Plano Diretor! Mas a Lei Federal nº 6.938, de
1981, diz que o meio ambiente é inalienável, não tem conversa.
Quero fazer
aqui um questionamento, na minha fala, sobre a inconstitucionalidade e a
ilegalidade desta proposta de lei, que está meio camuflada aqui. Na verdade, o
que interessa, o que temos que defender, é uma lei existente, a Lei nº 470, de
2002. A lei que está sendo proposta aqui é para modificar a Lei nº 470, é uma
outra lei. A inconstitucionalidade está na seguinte forma: a mudança de regime
nas unidades de estruturação urbana em suas subunidades é uma prerrogativa do
Executivo, do Sistema Municipal de Gestão e Planejamento e do Conselho
Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental - CMDUA, Lei nº 434, de 1999,
arts. 39, 40,162 e 164; Lei Orgânica Municipal, arts. 97, 210, 211, 235, 236,
237 e 260; Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257, de 2001, arts. 1º e 2º.
Pessoal, quero
falar de uma coisa aqui: gostaria de saber de que lado este pessoal está, que é
a Procuradoria Jurídica da Câmara de Vereadores, com todo o respeito a esta
Casa. A Procuradoria deu parecer favorável e, num segundo momento, ratificou
esse parecer. Então, Presidente, com todo o respeito a esta Casa, gostaria de
saber de que lado a Procuradoria Jurídica - paga com dinheiro público -
está! De que lado?
Quero terminar lendo um item que verifiquei no
dicionário Michaelis, que é o significado de teratologia: “Estudo das
deformações ou monstruosidades orgânicas” - isso está dentro do dicionário
Michaelis. Esta proposta de lei - não quero ser repetitivo, Ver. Guilherme
Barbosa - está na contramão, sim; ela teria que ser trazida aqui e encaminhada
pelo Sr. Prefeito Municipal, o Sr. José Fogaça de Medeiros, esse seria o
caminho correto, senão vamos estar na contramão, e nós não vamos permitir isso
no Plano Diretor, porque o Plano Diretor de Porto Alegre não pode ser
“patrolado”. Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Cabe ao
Presidente desta Casa registrar que a Procuradoria da Casa é constituída por
funcionários de carreira desta Casa, eles não estão a serviço de nenhuma
tendência política, são órgãos técnicos; cabe à presidência fazer esse
registro. (Palmas.)
O Sr. Alex Sandro Souza da Silva, Conselheiro da
Região de Planejamento 5, está com a palavra.
O SR. ALEX SANDRO SOUZA DA SILVA: Boa-noite, Sr.
Presidente; boa-noite, integrantes da Mesa; boa-noite, senhoras e senhores.
Hoje me encontro na condição de Conselheiro licenciado do Conselho do Plano Diretor,
representante da Região 5 de Planejamento, mas tenho condições, sim, de falar
sobre esse projeto; sim, de defendê-lo e, sim, de ver que todos aqui presentes
têm o lado positivo e o lado contrário ao projeto. Eu digo isso porque muitos
aqui que se mostram contrários a essa proposta de projeto aproveitam, em outros
países, aquilo que nós estamos querendo construir aqui dentro da nossa Capital.
(Palmas.) Muitos de vocês aqui se mostram contrários e foram para o Uruguai
jogar em cassinos e, aqui dentro do País, se dizem contrários a cassinos e
jogos; muitos foram para a Argentina e aproveitaram o porto que lá existe
(Palmas.); muitos aqui se dizem, num primeiro momento, contrários ao projeto,
e, depois, eu vou vê-los tomando chimarrão lá; muitos políticos aqui presentes
se dizem contrários, porque estamos num período eleitoral. A diferença é
básica, a diferença é única: eu sou defensor do projeto porque a minha região
necessita desse projeto.
É um projeto que vai elevar a qualidade da região,
vai elevar o PIB, vai trazer emprego e renda, vai dar uma outra cara para a
minha região (Palmas.) Eu não sou hipócrita, não estou aqui fazendo discurso
para ser eleito, porque não sou candidato a nada, este é o meu último ano
dentro do Conselho do Plano Diretor, não estou aqui para pedir esmola para
ninguém; eu estou aqui para dizer uma coisa bem clara: é um projeto muito bom
para a região; pena que tem gente que é hipócrita, falsa e cínica a ponto de
dizer que é contrário e, amanhã ou depois, vai usufruir do espaço. Eu não tenho
nada contra ninguém, não levo mágoa de quem é contrário. Tenho a minha
convicção, que é a de defender os interesses da minha região, pois fui eleito
para representar os seus interesses. Nas plenárias do Fórum de Planejamento foi
dito e acordado entre todos os participantes que o projeto é importante para a
região. Há algumas coisas que podem ser ajustadas? Sim, mas conversando se
ajusta tudo. E não simplesmente dizendo que é contrário e não dando nenhuma
alternativa.
Segundo, todo o mundo diz que tem que ser público.
Querem que o Governo compre a área, urbanize e dê para o povo. Sabemos que
Porto Alegre é uma cidade financeiramente falida. Hoje quem participa do
Orçamento Participativo briga por 3% do Orçamento público, que é quase nada. Há
um grupo de pessoas que comprou a área num leilão legal e está disposto a
investir muitos milhões de reais na área - coisa que muita gente aqui talvez
não saiba, gente que é movida como massa de manobra. Então, senhores e
senhoras, olhem o projeto, estudem o projeto antes de dar qualquer parecer
contrário a ele. (Manifestações nas galerias.) É importante para as pessoas que
vivem na região.
É a primeira vez que falo aqui na Câmara de
Vereadores, então peço desculpas por algum erro. Mas digo sempre que a franqueza
e a clareza são as melhores coisas que existem. Eu nunca escondi de ninguém e
em nenhum lugar que fui que sou favorável ao projeto, porque a minha região
apontou isso, porque eu conheci o projeto, porque, antes de dar um parecer
favorável, estudei para ver se era totalmente favorável à nossa região. Acabou
sendo isso, e eu levei o tema ao nosso Fórum de Planejamento. Peço que os
senhores não sejam hipócritas, aproveitando fora aquilo que a gente pode ter
aqui dentro de Porto Alegre. Obrigado. (Manifestações nas galerias.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Eu quero fazer
um apelo a todos os participantes. A democracia, que todos nós ajudamos a
construir e que é um bem extraordinário para a sociedade, pressupõe respeitar
as diferenças. Uma audiência pública tem a finalidade de fazer um debate no
sentido de que a Cidade ganhe com ela. Então, faço um apelo - e aqui nós
estamos com uma platéia de gente civilizada: enquanto um orador estiver na
tribuna, deixem-no fazer a sua manifestação; no final que a platéia faça a sua
manifestação. Esse é o apelo que faço, para que possamos conduzir bem os
trabalhos.
O Ver. Beto Moesch está com a palavra.
O SR. BETO MOESCH: Sr. Presidente
Sebastião Melo, eu o parabenizo por esta Audiência Pública. Maria Madalena
Rossler e Lauro Rossler, parabéns também pelo trabalho que vêm fazendo no
bairro Cristal. Arquiteto Debiagi, eu o saúdo.
Eu queria colocar algumas questões que são
importantes. Obviamente não podemos, “de cara”, já, dizer que somos favoráveis
ao projeto, mas ressalto que a atual lei também não é boa. Embora a Lei
Complementar nº 470, Ver. Guilherme Barbosa, defina um índice de aproveitamento
menor do que a proposta atual, aquilo que pode ser aproveitado é livre. Pelo
Código 25, previsto na lei atual, tu podes fazer cem andares de prédio; pela
atual Lei Complementar, porque é o Código 25. Pelo Código 25 do Plano Diretor
de Desenvolvimento Urbano e Ambiental é livre! Então a altura é livre! A atual
Lei Complementar, à qual votei contrariamente como Vereador - votei contrariamente!
-, também não é benéfica, na minha opinião, para a orla do Guaíba.
(Manifestação fora do microfone. Inaudível.)
O SR. BETO MOESCH: Vamos
respeitar as opiniões, Ver. Guilherme Barbosa. Eu concordei com V. Exª, apenas
estou dizendo que a atual lei, que V. Exª defendeu, eu sou contra, votei contra
como Vereador. Agora, o atual projeto é pior ainda do que a atual lei; isso,
sim! E vamos deixar claro: o seu Governo não debateu com a sociedade essa lei
que V. Exª defende! Não houve Audiência Pública! A sociedade não participou do
processo! Aliás, isso era corrente nas gestões anteriores: não se debatia, não
se faziam Audiências Públicas além do Orçamento Participativo - que é um
orçamento e não um projeto. Hoje a Cidade debate os projetos da Cidade,
aprovando-os ou não. Estivemos aqui, há quatro anos, votando o Projeto de
Decreto Legislativo que visava acabar com o Decreto das Áreas de Interesse
Cultural. Foi num período eleitoral, há quatro anos. Derrubamos o Projeto e
salvamos as Áreas de Interesse Cultural. Quatro anos depois, em agosto de 2008,
estamos aqui novamente para derrubar esse projeto, para derrubar a política do
fato consumado, porque, Arquiteto Debiagi, V. Sª não pode apresentar um projeto
pronto sem passar pelo debate, dizendo para os técnicos como vai ser o projeto.
Isso é inadmissível! A política do fato consumado precisa terminar. Há vinte
anos, tu tentaste fazer um megaprojeto de aproveitamento da orla do Guaíba, com
postos de gasolina, restaurantes e bares. Foi aprovado pela Câmara e era do
Poder Executivo. Mas a sociedade abraçou o Guaíba, e o Projeto não vingou. Os
empreendedores em Porto Alegre e principalmente o Sinduscon têm que respeitar
mais esta Cidade, respeitar mais o seu povo. Chega do lucro fácil e apenas o
lucro. Precisamos revitalizar a orla, mas a orla que a Cidade quer e não o que
um ou outro empreendedor quer. Respeitem esta Casa, respeitem a sociedade!
Muito obrigado. (Manifestações nas galerias)
As vaias me fortificam porque eu sei de onde elas
vêm.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): A Srª Khátia Vasconcelos, do Movimento Integridade, está com a palavra.
A SRA. KHÁTIA VASCONCELOS: Boa-noite a
todos, eu estou aqui em nome do Movimento Integridade, que é um movimento, como
o nome diz, que trabalha pela integridade; e quem trabalha pela integridade não
pode deixar de trabalhar pelo cumprimento das leis. Um dos focos do Movimento
Integridade é a questão ambiental e a questão da gestão da Cidade. Nós temos
vários companheiros acompanhando o Plano Diretor. Então, coube-me a tarefa de
vir aqui falar com vocês sobre a questão da APP - Área de Preservação
Permanente. Para quem não sabe, existe uma lei, ainda da década de 60, que
define a Área de Preservação Permanente na beira dos rios. E essa lei é
descumprida sistematicamente nas cidades. E nós precisamos parar com isso.
(Palmas.)
Existem normas dentro do Código Florestal, que é
quem define o que são as APPs, que diz que se pode usar APP, mas somente em
obra de utilidade pública ou de interesse social, o que não é o caso aqui. Nós
temos aqui um caso claramente de interesse privado, vamos dizer assim, mas a
APP está ocupada. Sim, a APP está ocupada. O correto seria nós tirarmos aquilo
que tem lá e permitir que o rio voltasse ao seu lugar original. Isso é bastante
difícil, até porque normalmente não se mexe em área de APP para não causar um
dano maior, porque é muito difícil a recuperação dessa área. Então, nós
gostaríamos, do Movimento Integridade, de falar, de chamar a atenção para essa
questão das APPs, as Áreas de Preservação Permanente, de Preservação Ambiental,
que têm de ser respeitadas.
E peço aos Srs. Vereadores que não beneficiem uma
pessoa, esquecendo do resto da comunidade. Porque, como já foi dito e vai ser
dito várias vezes ainda durante esta noite, a empresa, quando o terreno foi
comprado, conhecia a capacidade de ocupação da área. (Palmas.) Então, é
desleal, é uma concorrência desleal com os vizinhos, com as pessoas que moram
no entorno ou que tenham um índice de restrição bastante grande para a ocupação
de suas áreas, em razão de estarem perto do rio; é desleal haver a modificação
da lei em razão de uma pessoa, para beneficiar uma pessoa.
Então, Srs. Vereadores, queria pedir que vocês
pensassem nesse assunto com bastante carinho, a gente precisa realmente de uma
ocupação digna para aquele espaço, que não pode ficar abandonado, como o
pessoal colocou aí, sendo ocupado por ratos e baratas, a gente não quer isso.
Agora, nós queremos que as coisas sejam feitas de uma forma muito clara, de uma
forma muito transparente, de uma forma muito leal, para que todos possam ser
beneficiados. Era isso, obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Obrigado, Srª
Cátia Vasconcelos.
O Sr. José Luiz Provenzano da Luz, morador do
bairro Menino Deus, está com a palavra.
O SR. JOSÉ LUIZ PROVENZANO DA LUZ: Sr.
Presidente, Sras Vereadoras, Srs. Vereadores, demais componentes da
Mesa, senhoras e senhores, eu compareço à tribuna como cidadão comum
interessado no bem-estar da Cidade. Não posso deixar de manifestar a minha satisfação,
olhando um projeto dessa envergadura, é evidente que sou favorável. Nós não
podemos ficar amarrados ao passado, penso eu, devemos estar abertos às
modificações e à possibilidade de darmos uma nova via à nossa Cidade. Temos
observado aqui, ao longo dos tempos, que Porto Alegre ficou para trás, não
vemos nenhum movimento, aqui em Porto Alegre, de revitalização da Cidade.
Agora, quando se apresenta um projeto como esse, quando se apresentam outros
projetos de envergadura, que trarão, sim, mais empregos, haverá um afluxo
turístico maior, esses projetos recolocarão a Cidade no mapa turístico da
América do Sul, nós temos, sim, que manifestar a nossa aprovação. (Palmas.)
Também quero aqui falar de um assunto muito pessoal
em relação a isso. Sou morador do bairro Menino Deus há 22 anos e há mais de 20
anos faço exercícios e caminho ali na orla do Guaíba. Há uma zona proibida, que
é exatamente a partir do Estádio Beira-Rio. Não se pode seguir em frente,
porque avisam: “Olha, não vão para lá que estão assaltando! Eu já vi assalto!
Não passem que tem assalto!” Nós queremos uma revitalização. E eu falo em
revitalização como alguém que foi recentemente revitalizado, porque, embora
faça as minhas caminhadas, sofri um problema e tive que fazer uma cirurgia de revascularização
há noventa dias. Então, se a gente pode se modificar para melhorar, também a
Cidade pode se modificar para melhorar. (Palmas.) Por isso sou favorável à
aprovação desse projeto. Não posso falar em aspectos técnicos, porque, para
isso, há pessoas capacitadas. Apenas queria trazer a minha contribuição, por
ter ouvido pessoas ao meu entorno que aprovam esse projeto. Muito obrigado.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): A Verª Margarete Moraes está com a palavra.
A SRA. MARGARETE MORAES: Sr.
Presidente, querido Ver. Sebastião Melo; Dr. Debiagi; queridos amigos, Madalena
e Sr. Lauro Rossler; eu estou entendendo que há uma falsa tentativa aqui de
instaurar uma polêmica e de tentar classificar duas posições. Uma que é dos
modernos, dos contemporâneos, que querem o desenvolvimento da Cidade e querem
revitalizar aquela área a partir de toneladas e toneladas de concreto. E outra
- e nós não aceitamos essa classificação, eu falo em nome da Bancada do Partido
dos Trabalhadores, na condição de Líder - em que está o atraso, querendo que o
local permaneça como está, sujo e inacessível, com ratos e baratas. Nós não
aceitamos essa classificação. Nós, da Bancada do Partido dos Trabalhadores,
sabemos que o mundo sofre um processo de urbanização absolutamente desordenado,
e defendemos o direito à cidade. E esse direito à cidade, Ver. Comassetto, diz
respeito a que todas as pessoas possam viver com dignidade; e esse movimento de
direito à cidade se expressa juridicamente no Estatuto da Cidade, que quer a organizar
em função de seus habitantes, de seus espaços urbanos, que contêm
especificidades que devem ser respeitadas.
O Pontal do Estaleiro - quero complementar a fala
do Ver. Guilherme Barbosa - é um megaprojeto, é de um orçamento muito alto e
pretende modificar o atual gravame. Já existe um gravame que é adequado, porque
pode ser dedicado ao lazer, à gastronomia e contempla três ou quatro andares.
Mas é um projeto muito estranho, porque chega aqui com uma ânsia feroz,
exatamente às vésperas das eleições, pleno de questões obscuras e controversas;
são quatro prédios de treze pavimentos com múltiplas destinações. É importante
lembrar a Lei nº 434, de 1999, que determina que é Área de Interesse Cultural
desde a Usina do Gasômetro até o Estaleiro Só, o que não significa que seja
intocável, Tânia, mas tem que seguir um regramento adequado, um regramento
próprio e que já existe. Há razões legais; não cabe ao Legislativo, à Câmara,
essa iniciativa, nem de alteração do regime urbanístico, nem do índice
construtivo, nem da volumetria, nem das taxas de ocupação.
Sabiamente o Prefeito Fogaça não enviou o projeto
para esta Casa, não assinou. Por que o Prefeito Fogaça não assinou? A Câmara de
Vereadores não pode criar obrigações ao Executivo, isso é básico em qualquer Legislativo
do mundo. Assim como não pode haver a mudança de grau e de nível, de um para
dois, porque essa mudança, como disse o Ver. Guilherme, vai valorizar em 50% a
área. Houve um leilão com determinadas regras; é uma questão de moral, de ética
respeitar as regras do leilão, porque muitas pessoas queriam fazer algum
empreendimento lá e não tinham condições de acatar a determinadas regras do
leilão, e não dá para mudar durante o jogo. A área situa-se também nos Projetos
Especiais Integrados, e qualquer alteração que supostamente possa causar dano
ao meio ambiente exige um Estudo de Viabilidade Urbanística, um Relatório de
Impacto do Meio Ambiente, etc. Esse projeto, de fato, cria uma muralha de
concreto, uma muralha de espigões que vai impedir - eu quero que o senhor
preserve meu tempo, Ver. Sebastião - a visualização do morro e prejudicar a
visualização do lago também. Agora, causa um impacto irreversível, inexorável
no trânsito, já que, uma vez implantado, haverá, no mínimo, mais 4,5% de carros
circulando numa região já conflagrada. Nós fomos na inauguração do Museu Iberê
Camargo - magnífico, sou a maior apreciadora dessa obra - e levamos duas horas
para lá chegar, porque estava se apresentando o Cirque du Soleil ali perto do
BarraShopping.
Então, queremos dizer - falo em nome da Bancada -
que é preciso se preocupar com uma educação ambiental e patrimonial, para que
se desenvolvam na nossa geração presente, sobretudo nas novas gerações, valores
e sentimentos de reconhecimento, de pertencimento, de aproximação, de
apropriação e de reciprocidade. Nós, da Bancada do Partido dos Trabalhadores,
somos a favor do desenvolvimento de Porto Alegre com padrões elevados de
estrutura, de conforto e de qualidade de vida. Mesmo minoria aqui, hoje, não
aceitamos e rechaçamos quem é contra, hipócrita. Não aceitamos isso! Nós vamos
defender as nossas idéias até o fim. Infelizmente o Pontal do Estaleiro não
oferece essas condições, mas oferecemos uma solução. A solução seria um novo
projeto, e poderíamos fazer com que permanecesse bonito, moderno, aprazível,
dedicado à gastronomia, ao lazer, à cultura, à arte, à nossa identidade
cultural de Porto Alegre, para todos e para todas, não apenas para uma elite.
Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Sr. Luiz Felipe Oliveira, da Amachap e do Movimento Porto Alegre Verde,
está com a palavra.
O SR. LUIZ FELIPE OLIVEIRA: Senhoras e
senhores, boa-noite. Na pessoa do Presidente Sebastião Melo, cumprimento todas
as demais autoridades presentes. Eu só queria deixar bem clara a minha posição.
Como disse a Vereadora, a gente não é contra projetos para orla do Guaíba; pelo
contrário, é necessária, sim, a revitalização da orla do Guaíba. É urgente,
aliás, a sua revitalização. Só que nós temos que entender bem o conceito de
revitalização.
O companheiro que veio antes falou que ele foi
revitalizado por um médico, eu diria aos senhores que os arquitetos devem ser
os médicos da Cidade, os médicos da urbe. E tenho plena convicção de que os
arquitetos devem cuidar da sustentabilidade dos projetos e ter cuidados em
relação ao meio ambiente, em relação aos princípios fundamentais,
principalmente de uma região tão nobre, tão importante como é a orla do nosso
rio Guaíba. Nós temos que ter um carinho muito especial por essa orla - nós
temos uma das orlas mais bonitas do Brasil. As praias de Porto Alegre, aliás,
se o Guaíba não fosse poluído, seriam lindas em nível mundial. Elas já são
lindas; agora, falta o Guaíba ser despoluído.
E eu faço algumas observações, porque fui verificar
nas diretrizes de quem tem autoridade e competência técnica para apreciar esse
tipo de projeto. Eu fui buscar, naquele Grupo de Estudos Multidisciplinar, que
foi pago com dinheiro público e que fez um belo estudo sobre as diretrizes de
aproveitamento da orla do Guaíba... Foi um estudo muito bonito feito pelo Grupo
Multidisciplinar, com biólogos, com arquitetos, com urbanistas, com engenheiros
florestais. Fui buscar no Fórum que recentemente o Ver. Sebastião Melo promoveu
lá na PUC, para onde foram convidados urbanistas de fora do Brasil. E veio aqui
Jordi Borja, veio aqui outro eminente urbanista, o Charles Duff, veio aqui
Jaime Lerner, e nenhum desses eminentes urbanistas apontou para soluções desse
tipo. (Palmas.) Eu fui buscar orientações de pessoas que vêm de fora e que
também se apaixonaram pela nossa orla. Nenhum apontou para soluções desse tipo.
Fui buscar no nosso Plano Diretor, e também não se fala. No Plano Diretor não
tem nenhuma indicação para soluções desse tipo. Não encontrei nenhuma indicação
favorável a uma muralha de concreto de 40 metros. Aliás, todos eles foram
unânimes no sentido de que tivéssemos muito cuidado quando se tratasse de
construir prédios muito altos, porque a nossa orla não tem vocação para isso.
Disse um outro companheiro que esses prédios não produzem sombreamento nos
outros vizinhos, porque estão muito longes. Mas eles vão produzir sombreamento
uns nos outros. E aí eles dirão que é um problema deles, porque este é o
argumento que eles sempre usam: “Isso é um problema nosso, nós administramos.”
Mas eu não acho certo, porque não é ético. Compete aos arquitetos, repito,
zelarem pela sanidade, pela habitabilidade de toda habitação que eles
constroem. Isso é sagrado, isso é saúde, isso é vida. Não se negocia vida.
Pois bem, é muito estranho o fato de a Comissão de
Análise Urbanística e Gerenciamento - a Cauge - da Prefeitura ter aprovado e
mais estranha ainda é a justificativa do Arquiteto Debiagi. A lei atual não
permite residencial, pois se temia a falta de proteção contra enchentes, mas o
projeto resolve essa questão. Outra estranha solução que ele deu - aliás, muito
habilidosamente, na hora de apresentar as fotos, ele soube disfarçar - é a
visão que se terá do rio, já que todas as fotos foram tiradas de um nível alto,
de cima de um morro, de maneira que os prédios pareçam pequenos. Quando ele
apresenta uma no nível do rio, é escamoteado, e ele pretende criar uma nova
cultura, para a vista do pôr-do-sol do Guaíba, por entre os pilotis, que serão
colunas de três a seis metros. Então, nós teremos que nos acostumar a enxergar
o pôr-do-sol do Guaíba pelo meio dos pilotis. É a nova visão. É uma nova visão
para nossa orla de Porto Alegre. E podem crer, senhores, nós conhecemos, nós
temos experiências lá no Conselho do Plano Diretor, depois vem o “já que”. Já
que cederam para o Estaleiro, por que não cedermos também para o Inter? E “já
que”, “já que”, “já que”, e aí a nova visão que nós teremos no futuro é uma
muralha de concreto de mais de 40 metros e o pôr-do-sol do Guaíba apreciado
entre pilotis. (Palmas.)
Eu
tenho aqui quatro perguntas para encaminhar. A primeira: por que esse projeto?
Ele só encontra justificativa - repito, de todas as referências, de todas as
diretrizes que eu fui pesquisar - na cabeça de um arquiteto que é contra a
existência do Plano Diretor, contra a existência do Conselho do Plano Diretor e
também contra qualquer tipo de regra, conforme o seu pronunciamento lá no Fórum
Porto Alegre do Futuro - repetindo as palavras do Arquiteto Debiagi: ele é
contra todo e qualquer tipo de regramento, contra Plano Diretor, contra
Conselho, tem que ser liberado, laissez-faire... Por que esse Projeto
não é vetado e guardado como exemplo do que não queremos na orla? Não tiro
alguns méritos, repito, mas, da maneira como está, com essa altura... A segunda:
até quando teremos que agüentar o poder predador do jeitinho brasileiro, a “lei
do Gérson” no nosso Plano Diretor? (Palmas.) A terceira: de onde esse arquiteto
pretende tirar índice construtivo? E quarta: quem, na população, terá acesso a
esses apartamentos? Muito obrigado.
(Manifestações
nas galerias.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Eu quero fazer um apelo: que os
inscritos cumpram rigorosamente o horário, para que a gente possa possibilitar
a todos falarem.
O
Sr. Daniel Antoniolli, Presidente do Sindicato da Hotelaria e Gastronomia de
Porto Alegre, está com a palavra.
O
SR. DANIEL ANTONIOLLI: Prezado
Presidente, Ver. Sebastião Melo; ao cumprimentá-lo, quero cumprimentar todos os
Vereadores presentes; um abraço especial a toda a Bancada da Frente do Turismo,
que é bastante grande, com mais de vinte Vereadores; prezados participantes da
Mesa; meus senhores e minhas senhoras. Coube-me aqui suceder meu amigo Felipe,
meu particular amigo, mas discordamos com relação a esse assunto.
Eu acho que todos nós aqui presentes, tenho
certeza, temos várias coisas em comum, e uma delas é querer o melhor para a
nossa Cidade. Evidentemente, as opiniões não podem jamais ser unânimes num
projeto dessa envergadura. Mas, respeitando a opinião contrária, quero colocar
modestamente a minha opinião e solicito que quem seja contra o projeto pelo
menos examine as ponderações que vou fazer. Se a gente nem sequer deixar entrar
o argumento, não tem chance de avaliar se ele tem ou não algum sentido.
Primeiramente,
eu sou favorável ao projeto, porque a minha área, o turismo - sou Presidente do
Sindicato da Hotelaria e Gastronomia -, é hoje a indústria que mais gera
emprego e renda no mundo. Nós aqui no Brasil estamos ainda muito atrasados. Não
temos sequer 3% do PIB vindo dessa nossa indústria, enquanto que a média
mundial é de 10%, e países de Primeiro Mundo, principalmente da Europa, chegam
a ter 20% do PIB vindos do turismo. Porto Alegre tem uma situação potencial
excepcional para o turismo. Nós podemos desenvolver muito a nossa Cidade, gerar
muito emprego e renda de uma maneira ambientalmente responsável. É uma
indústria que não polui e, principalmente, é altamente distributiva.
Nós,
lá no Sindicato, junto com outras entidades, desenvolvemos um projeto
estratégico para o turismo de Porto Alegre, que tem uma visão de futuro até
2020. E uma das premissas fundamentais do projeto é a renovação, é a retomada da
orla do Guaíba, que é o principal patrimônio da nossa Cidade e que não pode
continuar do jeito que está. Quando nós temos uma grande oportunidade como a
que temos hoje - e nós temos uma grande oportunidade, pois um grupo investidor
está disposto a investir uma quantia enorme, parece-me que 150 milhões, se não
me falha a memória, para revitalizar uma área que está degradada há muitos e
muitos anos -, nós não podemos a deixar passar. Eu não estou aqui defendendo
que se faça tudo isso de qualquer jeito, mas é um lindo projeto, eu não vejo
muralha de concreto nele. (Palmas.) E eu estou com óculos. O projeto inclusive
está atrás de um morro, quer dizer, ele não afeta, não há edifícios que possam
ser atingidos.
Eu só quero completar assim: entendo que a gente,
em certas situações, tenha que ser conservador, mas conservador com coisas
bonitas. Nós temos muitos prédios que têm de ser conservados e são conservados;
agora, conservar a orla do Guaíba como está?! Aonde nós vamos? “Conservar as
baratas”, como falam?
Outra coisa que eu ouvi, com muita ênfase, de
alguns que me antecederam: a inflexibilidade com relação à legislação por isso
ou por aquilo. Ora, a lei feita pelos homens pode ser modificada pelos homens!
(Palmas.) Nós não podemos permanentemente... Os tempos mudam continuamente e,
atualmente, mudam mais rapidamente ainda. E quem é inflexível fenece muito mais
rapidamente. Nós temos que nos adaptar às novas situações e aos novos tempos.
Por isso sou favorável a esse magnífico projeto e parabenizo o Arquiteto
Debiagi pela sua autoria. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): A Srª Sandra Jussara Ribeiro, da Agapan, está com a palavra.
A SRA. SANDRA JUSSARA RIBEIRO: Boa-noite,
Presidente! Cumprimentando o senhor, cumprimento a Mesa toda e todos os
presentes. Sobre a polêmica da orla do Guaíba: a Lei Orgânica do Município de
Porto Alegre, art. 245, incisos I e V, ao identificar a orla do Guaíba como
Área de Preservação Permanente, estabelece tratamento especialíssimo às áreas e
imóveis nela localizados. Com efeito, o parágrafo único desse artigo veda, em
tais áreas, atividades que, de qualquer forma, contribuam para descaracterizar
ou prejudicar seus atributos e funções essenciais. No entanto, o projeto que
hoje se debate altera radicalmente essa área, e o pior, sem que se tenha sido
apresentado o respectivo Estudo de Impacto Ambiental. Em qualquer outro local,
a exigência de tais estudos para empreendimentos de impacto é rotineira. Nesse
caso, tal exigência deve ser considerada requisito essencial para o exame de
qualquer projeto de lei que trate de sua urbanização.
Além disso, a Lei Orgânica de nossa Cidade
estabelece no art. 126 o seguinte: “Os interesses da iniciativa privada não
podem se sobrepor aos da coletividade”. Por sua vez, o art. 127 deixa claro que
“os planos que expressam a política de desenvolvimento econômico do Município
terão o objetivo de promover a melhoria da qualidade de vida da população”,
entre outras coisas. E não é o nosso caso.
A Lei Complementar nº 470/02, que, diga-se de
passagem, é uma aberração, teve sua modificação elaborada no Executivo, mas não
foi encaminhada pelo Sr. Prefeito para a sua efetivação na Câmara Municipal.
Porém esse projeto aqui chegou por outros caminhos. Esse é o assunto que deve
ser discutido hoje aqui. Tudo o que se vê, tudo o que se sabe da advocação da
proposta do empreendimento da Ponta do Melo é especulação. A proposta de que se
tem conhecimento é mais um recurso de marketing para viabilizar o
interesse comercial, com a construção de seis torres de catorze andares, algo
que poderia até ser viável em outro local que não a orla. Vamos esclarecer de
uma vez por todas: a orla, onde é previsto o tal empreendimento, também é Área
Especial de Interesse Cultural! Estamos diante de uma agressão tanto dos
empreendedores como do Poder Público, e esta Câmara, na eventualidade de
aprovar o projeto, também assumirá essa responsabilidade. E isso para
viabilizar interesses econômicos, sobrepujando os interesses ambientais e
deformando a orla, retirando a sua função mais do que centenária. Não se sabe e
não está em discussão o que essa proposta trará de impacto ao entorno,
repita-se. Fala-se muito, mas o resultado é imprevisível.
Sustentamos, então, que a orla deve ser respeitada
como patrimônio natural, paisagístico, cultural e histórico da comunidade
porto-alegrense. Além do mais, a orla, no seu exame para revitalização, não
deve ser encarada isoladamente, devemos respeitá-la com a noção adequada de
revitalização com parques, jardins, equipamentos de lazer como espaço aberto
para uso de toda a população. Falamos insistentemente nisso, e o Poder Público,
os empreendedores e uma parcela da população do bairro Cristal desconsideram
isso.
Os outros empreendimentos próximos executados e em
andamento já configuram um problema de circulação nas vias públicas para quem
se dirige à Zona Sul, não há alargamento de pistas que solucione esse problema.
Para se ter clareza de que as obras que estão sendo realizadas dão suporte ao
empreendimento, seria necessária a realização de mais um estudo: o Estudo de
Impacto de Vizinhança, o qual não foi sequer previsto.
A proposta beneficia uns poucos privilegiados que
terão condições financeiras de ocupar o espaço em questão, mesmo que se
proponham áreas abertas ao uso público, junto ao proposto empreendimento,
essas, com certeza, não serão ocupadas pela comunidade porto-alegrense como um
todo, pois o empreendimento privado acaba se apropriando do espaço, promovendo
dessa forma a segregação social.
Quando o terreno foi adquiro, conheciam-se as
limitações referentes às edificações e atividades, portanto é inadmissível a
alteração da lei para beneficiar o empreendedor e uma pequena parcela da
população, prejudicando a nossa Cidade, siga-se o exemplo da urbanização que
foi feita, ao longo do tempo, desde a Usina do Gasômetro até a Ponta do Melo.
Hoje não se pode mais dizer que a Cidade está de costas para o Guaíba. Ela usufrui
diariamente de caminhadas, de rodas de chimarrão e bicicleta. Se por acaso a
sociedade for, mais uma vez, descartada pela sua não-participação em todos os
atos do planejamento urbano, como expressa o Estatuto da Cidade, vamos deixar
para as próximas gerações um exemplo de prepotência contra o interesse público.
Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): A Verª Sofia
Cavedon está com a palavra.
A SRA. SOFIA CAVEDON: Sr.
Presidente, Ver. Sebastião Melo; Madalena, Lauro, Arquiteto Debiagi, senhores e
senhoras, colegas Vereadores, eu vou me deter um pouco mais na forma, porque
tenho pleno acordo a muito do conteúdo do projeto aqui contestado, mas acho que
é extremamente grave a maneira como está se processando essa importante mudança
na paisagem de nossa orla.
Pergunto aos cidadãos: a Câmara - eu jamais
assinarei embaixo, e a minha Bancada também não - pode ser casuística ao tratar
o cidadão de Porto Alegre? Houve um leilão público, um leilão judicial, que
abriu aos cidadãos de Porto Alegre a compra de uma área de uma massa falida. E
para que isso se realizasse... A regra que existia para a área do Estaleiro,
anterior à primeira regra, senhores, era bastante conservadora, em que o índice
de aproveitamento era de 0,3%, nem um terço da área, em que o índice de altura
era de dois pavimentos, ocupação 22%, para essa regra de área de preservação
permanente, sim, não houve comprador. A Cidade definiu um bom regime
urbanístico, Ver. Beto Moesch, e, então, sim, viabilizou o leilão, foi uma regra
votada pela Cidade, discutida, bem ou mal, estabelecida por esta Casa, que tem
que ter responsabilidade com o que faz. Ao estabelecer uma regra e realizar com
sucesso o leilão disse ao cidadãos: “É dentro desse parâmetro que será feito o
negócio”. Portanto, depois do resultado dado, depois do empreendedor ter
comprado, depois de decidida a questão, se mudarmos a regra, estaremos
valorizando, no mínimo, em 50% aquele objeto que foi adquirido em uma outra
regra. Isso não pode ser aceito em uma República! (Palmas.) Isso seria
pensável, seria imaginável nos tempos do patrimonialismo, quando não havia
democracia, e o Estado público era misturado com o privado; não na República
brasileira, não em Porto Alegre!
Com o camelódromo, gente, aqui em Porto Alegre,
tentaram fazer a mesma coisa. A licitação não previa estacionamento em cima;
nós levamos ao Ministério Público, ele disse “não”. E a Prefeitura anunciou
estacionamento depois do certame ter sido feito, o Ministério Público disse
“não”, que “não era possível, porque não tinha sido objeto e não poderia mudar
a regra depois e beneficiar o empresário já ganhador”. (Palmas.) E a Prefeitura
teve que fazer uma nova licitação, porque tinha incorporado e prometido ao
empreendedor um estacionamento que não entrou no processo licitatório.
Então, o mínimo de ética e virtuosidade é pedido a
esta Casa. E eu me admiro, Srs. Vereadores que assinaram o Projeto, que tenham
a coragem de colocar esse projeto em votação. E ele não veio do Governo; os
pareceres, Secretário Beto Moesch, foram favoráveis ao projeto do Arquiteto
Debiagi, os pareceres da Cauge foram favoráveis, indicando mudança de
legislação, vejam só, mas o Município, para não cometer esse crime, não mandou
o projeto para cá, e os Vereadores querem cometer em nome do Município. Isso é
um crime que nós não vamos assinar em baixo! Não vamos assinar!
(Manifestação nas galerias.)
A SRA. SOFIA CAVEDON: É muito grave,
qualquer empresário que entrar na Justiça depois, dizendo-se lesado, impedirá o
empreendimento, porque foi lesado, a regra era outra.
Então, a respeito da forma, não é possível; ou nós
fazemos uma nova lei, um novo leilão, ou nós não mudamos a regra. E mais: a
atual lei é clara, ela diz, para a questão da volumetria, que o Código é 25, é
aberto, é verdade, mas é mediante EVU. E, para fins do EVU, está em vigor o
Decreto das Áreas de Interesse Cultural. E, antes à atividade, a lei diz que é
15.2, portanto caracteriza aquela área como Área de Interesse Cultural, e o
Decreto das Áreas de Interesse Cultural é critério para a concessão do EVU por
lei, por entendimento do Ministério Público, e está em vigor.
Portanto,
encerro dizendo que essa área da orla é uma Área de Preservação Permanente, é
uma Área de Interesse Cultural, e não será com a conivência desta Casa que iremos
desrespeitar isso - legislação federal, municipal e estadual. E nós não vamos
construir um novo muro como o da Av. Mauá na orla de Porto Alegre, muito menos
através de um processo ilegal, imoral e não-ético. Obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Ver. Beto
Moesch está com a palavra para uma Questão de Ordem.
O SR. BETO MOESCH: Não só por
ter sido citado, mas para esclarecer.
No momento em que temos uma Lei Complementar, ela
está no mesmo nível da Lei Complementar do Plano Diretor...
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Isso não é
uma Questão de Ordem, Vereador.
O SR. BETO MOESCH: Claro que
sim, é uma informação, para dizer o seguinte...
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Não é Questão
de Ordem.
O SR. BETO MOESCH: Muito bem,
então vamos continuar deixando as pessoas confusas. Tudo bem.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Pode se
reinscrever, e a Mesa estudará o caso.
O
Sr. Valter Souza, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção
Civil, está com a palavra.
O SR. VALTER SOUZA: Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, Sras Vereadoras, demais membros da
Mesa, recebam minhas congratulações. Senhores, senhoras, companheiros do
Conselho do Plano Diretor, sociedade aqui presente, fiz várias anotações que
gostaria de colocar aqui, mas, ouvindo os vários discursos, as várias
colocações, resolvi deixar de lado e colocar de forma singela o pensamento dos
trabalhadores da indústria da construção civil.
Mas
é importante, quando se defende um projeto lindo como esse, trazer à memória
muitas vezes aqui... Porque é muito fácil chamar os trabalhadores de marginais,
é muito fácil no jornal aparecer o nome de um operário, e nós, que pertencemos
a essa linha, temos de defendê-los. Eu defendo o social aqui, eu defendo a garantia de
empregos para milhares de trabalhadores que vão trabalhar nesse projeto, na
construção desses prédios. E defendo também o respeito ao meio ambiente. Tenho
certeza de que nesse projeto do Arquiteto Debiagi, no projeto dos empreendedores,
haverá respeito a toda a sociedade porto-alegrense. E, dentro dessa linha, nós
estaremos defendendo com todas as nossas forças que esse projeto seja
concluído, com toda a dignidade, com todo o respeito que a nossa Cidade
precisa.
Eu muito defendi, em épocas duras, o respeito, a
liberdade, o direito de ir e vir. Muitos que aqui estão falando hoje talvez não
chegaram nem perto dessa defesa. Então, é importante que se diga: democracia,
liberdade... Eu estive nessa grande luta para que todos pudessem aqui dizer o
que querem, a favor ou contra, mas com respeito e dignidade. Somos favoráveis!
Vamos defender o projeto até às últimas instâncias. Assim é a posição dos
trabalhadores. Srs. Vereadores, os senhores estão de parabéns, porque aqui é a
Casa do Povo, e aqui se vai decidir! Muito obrigado. (Palmas.)
O SR.
PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Sr. Pedro
Lopes, da União de Vilas da Grande Cruzeiro, está com a palavra.
O SR. PEDRO LOPES: Boa-noite ao povo, às organizações populares que estão aqui contra ou a favor; boa-noite aos Parlamentares, boa-noite à Mesa coordenadora e à entidade do Cristal que convocou esta Audiência.Quero iniciar com uma reflexão: do alto, belo asfalto; de perto, triste concreto. Eu sou da Cruzeiro e estou aqui falando não em nome dos vileiros da Cruzeiro, porque eu sou quem mora na Vila Cruzeiro; não falo em nome do povo, eu sou o povo, sou filho de pedreiro, por isso sou pedra, sou Pedro. Meu questionamento a esse projeto começa hoje, porque hoje estou sendo apresentado a ele, graças ao companheiro Eduino, que debate no Conselho do Plano Diretor. Quanto ao debate, com todo o respeito, quero dialogar com o camarada Alex, que é da minha região, e com o companheiro e Presidente do Sindicato da Construção Civil, de que tenho orgulho, sou de uma família de construtores, pedra de construção, mas também sou pedra jogada no chão de resistência popular: nós, nas vilas, estamos olhando esse projeto com uma preocupação, uma preocupação urbanística.
Também fiz algumas anotações interessantes aqui, com
todo o respeito ao Engenheiro Debiagi; ele falou no Projeto, que todo o Projeto
é público e para o público, vocês notaram? Em nenhum momento ele disse que era
para o privado; quando ouço o Fogaça falar, apresentar suas obras, todas elas
foram feitas pelo privado. Onde é que está o Governo, onde é que está a
República? (Palmas.) Tem alguma coisa errada com o nosso País; não concordo com
a Vereadora, acho que os Vereadores hoje nem precisavam intervir. Eu vim,
sinceramente, ouvir o povo, vim ouvir as entidades que estão aqui, como o
camarada Alex e o companheiro da construção civil, o Valter, a quem respeito
pelo que representam, mas faço um alerta: sou da União de Vilas da Grande
Cruzeiro, e uma das pautas nossas há mais de dez anos é um centro de formação
profissional para dar qualidade para o trabalhador autônomo vender seu
trabalho, vender sua mão-de- obra com qualidade. Mas não podemos, pessoal...
Desculpe-me o companheiro do Sindicato, mas eu não destruiria a minha casa para
gerar dois empregos, nem destruiria a minha rua para gerar cem empregos. Eu não
destruiria a minha Cidade para gerar cem mil empregos. Não! O rio é bonito, ele
está depreciado como estava o Brasil - que não era Brasil -, quando chegaram os
europeus e olharam os índios; eu descendo de índios, dos povos indígenas, tenho
descendência. E quem descende dos povos indígenas e dos afro-descendentes têm
marcada na pele a política de exclusão; nós, na Grande Cruzeiro, estamos lá
porque resistimos. Informem-se o que é a União de Vilas da Grande
Cruzeiro, informem-se sobre a luta que fez resistirem as vilas para não serem
empurradas, não para a orla do rio, mas lá para a periferia. Nós resistimos,
não negando a necessidade de novos empreendimentos, mas discutindo.
Esse projeto, com todo o respeito, não circulou nos
fóruns democráticos da Grande Cruzeiro. (Palmas.) Ele está restrito ao Conselho
do Plano Diretor, aos ritos que são democráticos e que eu respeito, que
escolheram a representação, eu respeito; eu respeito todas as instâncias
democráticas, não vim aqui contestar o direito de as pessoas questionarem o
projeto, mas acho que também não dá para a gente chegar aqui e dizer: “Amém, é
uma beleza, tudo bem”. Olhando a foto, eu digo que é uma beleza, mas o que será
reservado para as vilas que ficarem? Porque as vilas do Cristal estão condenadas
ao êxodo. Desculpem-me, eu acompanho há muito tempo o projeto do
BarraShoppingSul. O que são os projetos privados da orla? São projetos, tudo
bem, vão dar qualidade de vida, vão dar beleza, estética, mas não é só isso,
pessoal. Nós não estamos no Terceiro Mundo, nós não estamos no Primeiro Mundo:
nós estamos no mundo. O mundo é um só. Vamos parar com esta conversa: “Ah,
porque lá é belo, nós temos que copiar a Europa”. Para que copiar a Europa? A
Europa sangrou a América, levou todo o nosso ouro, enriqueceu. (Palmas.)
Eu agradeço pelo espaço e reitero que estou sendo
apresentado hoje ao projeto e, para a entidade que represento, estou levando o
que eu vim ver aqui. Vamos debater, porque nós temos interesse na Av. Cruzeiro
do Sul; nós temos interesse, interesse esse que é do povo que habita lá;
queremos debater todo esse projeto. Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Ver. João
Carlos Nedel está com a palavra.
O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr.
Presidente, Ver. Sebastião Melo; demais componentes da Mesa, senhoras e
senhores, devo dizer que sou um dos 17 Vereadores subscritores do projeto, com
muita honra e com muita moral! (Palmas.) Sou um dos subscritores da alteração
da Lei nº 470, que vai viabilizar esse projeto, que vai dar sustentabilidade a
ele.
Muitas coisas foram ditas aqui, e eu queria
esclarecer algumas. Como dizia o Ver. João Antonio Dib, meu Líder da Bancada, o
Projeto que altera a Lei nº 470 é legal e regimental. Algumas questões foram
colocadas aqui. Eu vi uma faixa que diz: “Estão privatizando a orla.” A área,
hoje, é privada. O orla é privada. (Manifestações nas galerias.) Nesse local, a
orla é privada. Foi comprada por uma empresa privada e lá está, a área é
privada.
O que vai acontecer com esse projeto? Ele vai
tornar pública a orla. (Manifestações nas galerias.) Essa área tem 6 hectares,
e, como o projeto é um loteamento, é uma obrigação legal doar 20% da área para
a Prefeitura. Pelas premissas, o empreendedor vai doar 54% da área para a
Prefeitura, que representam 3,284 hectares, em forma de esplanada, como vocês
estão vendo lá, de uma rua de 20 metros, de uma ciclovia, de uma marina
pública, de um cais, e praças serão construídas ao lado, pela adoção da Praça
Dom Vicente Scherer. Então, 3,2 hectares, depois desse projeto, serão públicos.
Agora nós estamos tornando essa parte da área realmente pública.
O Ver. Guilherme Barbosa falou aqui que o
empreendedor vai ganhar 50% de área construída. Não é verdade! Hoje a lei
permite que o empreendedor adquira índices construtivos até 2,0, pois essa lei
que está alterando restringe a compra em só 0,5; em meio! Não vai exercer o
direito de comprar 1,5, vai comprar só meio, ou seja, essa lei está
restringindo a compra de índices.
Eu queria falar especialmente nos benefícios: serão
165 milhões de investimentos, mais de mil empregos diretos e indiretos por três
anos de construção, o que vai gerar mais de dois milhões de IPTU por ano, pela
frente, infinitamente. Isso é Receita que vai gerar empreendimentos novos na
Cidade. Vai gerar, só em ITBI, pela transferência, aproximadamente cinco
milhões de reais; e o retorno de ICMS, num investimento de 165 milhões, vai
agregar muita Receita à nossa Porto Alegre. Hoje estamos aqui optando: queremos
esse projeto ou a situação atual que lá está? Nós temos que escolher. Está
aqui. (Mostra fotografias.) (Palmas.) Nós
temos que escolher, está aqui, o empreendedor vai doar a área e vai investir
aproximadamente doze milhões nessa parte pública, que vai ser doada. A
Prefeitura não tem condições de investir grandes valores na revitalização da
nossa orla. Vocês conhecem, na Serraria, a Vila dos Sargentos? A Vila Terra
Nostra, também na Serraria? Moram dentro d’água. Vocês conhecem a Vila dos
Pescadores? Também as pessoas moram dentro d’água. Não há dinheiro suficiente
para revitalizar com o dinheiro público essa orla.
Encerrando,
Sr. Presidente, esse é um pré-projeto que está circulando na Prefeitura por
mais de dois anos e meio e obteve todas as premissas, as exigências do setor
público, da Cauge, da SMAM, do DEP, da EPTC e do Epahc. Portanto, senhoras e
senhores, é um obra importante para a nossa Cidade, ela vai gerar emprego,
renda e desenvolvimento. Eu sou responsável sim, sou responsável pelo futuro da
nossa Cidade. Não quero ser responsável pelo atraso da nossa Cidade.
(Manifestações nas galerias.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Senhoras e
senhores participantes, eu disse no início e mantenho a minha posição - nós
estamos na 12ª inscrição, e há 25 inscritos: ou fazemos uma mudança no tempo,
por mim podemos manter não há problema algum... Vejo que o público está se
dispersando, e o Plenário é soberano para decidir sobre isso.
O Sr. Norberto França Silveira, morador da Zona
Sul, está com a palavra.
O SR. NORBERTO FRANÇA SILVEIRA: Boa-noite,
prezada platéia; Exmos Senhores da Mesa: meu nome é Norberto, como
já foi anunciado, sou advogado, morador da Zona Sul. Vim de Bagé, estou em
Porto Alegre desde 1967 e permaneci aqui porque amo Porto Alegre. Conheço Porto
Alegre de norte a sul, de leste a oeste, conheço rua por rua, bairro por
bairro, vila por vila. Nunca vi em Porto Alegre um projeto de tal envergadura
que viesse beneficiar a Cidade de maneira tão estupenda como esse. Parabenizo a
equipe de arquitetos pela magnitude do projeto. Moro em Belém Velho, na Zona
Sul, sou admirador da natureza, advogo na área ambiental, na área imobiliária.
Agora mesmo, estou tentando regularizar umas vilas de invasores, a favor
desses. Acho esse projeto um dos melhores que já vi na minha vida. E isso aí
vai ser a cidade de Porto Alegre, vai catapultar a nossa Cidade para o mundo
inteiro com um dos lugares mais bonitos do Brasil! Qualquer técnico, e eu me
refiro aos técnicos que aqui estão - arquitetos, engenheiros e urbanistas -,
que conhece urbanização, que conhece o projeto, se estivesse falando,
realmente, de acordo com a profissão que exerce e que estuda, certamente,
aprovaria um projeto desses, porque é um projeto que tem ventilação, tem
aeração, tem acesso público.
Respondam-me os senhores, principalmente os que são
contrários, eu até aceito essa contrariedade toda, porque a pessoa, às vezes,
não conhece... Eu nem conhecia esse projeto e já era contra, mas mudei de idéia
a partir do momento que conheci o projeto, tecnicamente falando, visualmente
falando, artisticamente falando, empresarialmente falando, enfim, de todos os
benefícios; só tenho a concordar. Se os senhores verificarem, esse conjunto de
prédios não tem mais do que treze andares. Hoje Porto Alegre está cheia de
prédios de vinte andares. Eu vou dar uma idéia para vocês de concentração de
edificação. Vamos supor que esta mesa aqui é um terreno, e eu só posso
construir o volume que tenho no meu casaco. Se eu pegar e deitar o meu casaco,
vou interromper toda essa região aqui e esta; as pessoas que quiserem passar aqui
de carro não vão poder, ninguém vai enxergar daqui para cá. Se eu fizer ao
contrário (Mostra outra posição, vertical.), isto aqui, vou conservar mais o
solo, vou ter mais árvores, vou ter mais ar transitando entre a edificação, vou
ter mais visual e não vou prejudicar ninguém, porque eu, aqui, tenho 1m50cm, e
qualquer murinho de 1m60cm me tapa.
Então, olha aqui, essa história de dizer que estou
perdendo o visual, digam-me os senhores, ali só tem mato, tem um terreno cheio
de mato! Do outro lado, tem um morro que não tem um belvedere! Deveria ter um
belvedere, e não tem um belvedere! E, agora, ali, vai haver dezenas de
belvederes e acesso direto ao rio; como bem disse o Ver. João Carlos Nedel,
pela primeira vez em Porto Alegre, vamos ter um acesso público ao rio
proporcionado pela iniciativa privada.
Agora, meus amigos, com toda a franqueza, como é
que vocês querem desenvolver o nosso Brasil? Se voltarmos ao ano de 1500, até a
China já nos passou para trás, há 30 anos a China era uma miséria só, miséria só,
hoje já nos passou para trás. E nós, aqui no nosso País, demandando contra o
desenvolvimento, o progresso e a geração de trabalho. Vejam bem, e não é só
trabalho agora, durante a obra, é o que virá depois. Em função desse lugar ali,
desse recanto, a partir do momento em que estiver construído, quem vem lá da
Restinga não vai mais necessitar de dois, de três ônibus para ir trabalhar lá
na Zona Norte. A cidade de Porto Alegre, para quem mora na Zona Sul, vai
começar no BarraShoppingSul, do Estaleiro Só para trás. Muito obrigado,
boa-noite.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Ver. Dr.
Goulart está com a palavra para uma Questão de Ordem.
O SR. DR. GOULART: Sr.
Presidente, nós precisamos ouvir muitas pessoas, esse projeto é complexo, eu
sugiro que V. Exª peça a cada manifestante que use o período que nós usamos
aqui para nos entendermos de três minutos. Nós não vamos conseguir vencer todas
as opiniões que faltam, porque ainda faltam treze, pelo que V. Exª disse.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Ver. Professor
Garcia está com a palavra para uma Questão de Ordem.
O SR. PROFESSOR GARCIA: Sr.
Presidente, as regras foram estabelecidas no início, sei que há várias pessoas,
mas estou inscrito e gostaria que os meus cinco minutos fossem garantidos.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Não havendo
acordo no Plenário, a Presidência mantém as regras estabelecidas.
O Sr. Jaime Rodrigues, Presidente do Instituto de
Planejamento e Estudo Socioambiental, IPES, está com a palavra.
O SR. JAIME RODRIGUES: Sr. Presidente,
Ver. Sebastião Melo; para mim é um prazer imenso estar nesta Casa dialogando
com todos, porque sempre defendi a democracia, e aqui é uma Casa essencial para
democracia. Aqui existe a pluralidade de pensamentos, diversas posições. Mas a
democracia não é feita só com esta Casa, existe o Executivo, existem as leis. E
é necessário fazermos a democracia completa. E digo isso porque a Cidade
atravessa um período fundamental que é a discussão do desenho urbano de Porto
Alegre. Não é a primeira vez que faz isso, Porto Alegre já fez, por exemplo,
alterações no seu sistema viário. Construiu a Av. Borges de Medeiros no
passado, respeitando a tradição e a história de Porto Alegre, porque a Av.
Borges de Medeiros tem o contorno de rua colonial da época anterior, tem um
viaduto, tem toda uma série de valores culturais que Porto Alegre tem e que a
Av. Borges de Medeiros preserva. E existem outros períodos de mudança do
desenho urbano de Porto Alegre. Quando se construiu a 2ª Perimetral, foram
colocadas várias pessoas de baixa renda lá na Restinga, a mais de 30
quilômetros do Centro de Porto Alegre, é uma outra alternativa, é uma outra
solução.
Agora, estamos num momento de desenho urbano de
Porto Alegre, são vários os projetos, e eles não estão sendo colocados de forma
global, mas de “pingadinho”. Então, é um grande edifício no porto de Porto
Alegre. Quando todas as cidades do mundo estão colocando os automóveis para
fora, Porto Alegre está atraindo os automóveis para lá. (Palmas.) Acho
estranho! E quem é o responsável por isso? Eu quero saber quem é o responsável!
O Sr. Prefeito assume isso? Ou a Governadora? Ou são os dois? Da mesma forma,
está havendo transformações na orla do Guaíba, mas o Sr. Prefeito não mandou o
projeto. São os Vereadores? É o Prefeito? Quem é, afinal de contas? São os
empresários que estão comprando e fazendo projetos? Afinal, Porto Alegre não
está em desenvolvimento? Isso é uma falta de visão.
Nós estamos construindo universidades; na Restinga,
estão implementando uma escola técnica, que não havia no passado! Uma série de
outras coisas estão sendo construídas, porque construção não é só o espetáculo,
construção é o desenvolvimento da população, e a população tem que ter o seu
mérito! (Palmas.) O que não está havendo no atual momento. A questão do desenho
urbano não é só de Porto Alegre, aqui foi falado em Buenos Aires, que
transformou o porto, Puerto Madero, e a maneira com que se construiu atrás do
Puerto Madero elevou e muito o custo da construção, só a elite de Buenos Aires
pode morar lá. Da mesma forma, existem transformações em Londres, onde o
Executivo evita o automóvel; aqui em Porto Alegre, nós atraímos o automóvel
para o Centro. Da mesma forma, em Paris, em Tóquio, em Pequim, não preciso
falar, porque basta ligar a televisão, e nós todos vemos a poluição que lá
existe.
Nós não temos respeito com Porto Alegre? Quem é o
responsável por Porto Alegre? As pessoas que foram eleitas têm que se
responsabilizar! Existe um Legislativo neste País, não é só a Câmara de
Vereadores, que todos nós valorizamos tanto; nós temos uma legislação federal
que impede esse tipo de transformação que estão querendo fazer no Pontal do
Estaleiro. A legislação diz que uma transformação no Plano Diretor tem que ser
feita com várias outras referências, e elas não estão sendo colocadas em
combinação com as alterações legais que querem fazer para permitir esse
projeto, que é um projeto específico, não está combinado com todos os demais.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Ver.
Professor Garcia, Líder do Governo, está com a palavra.
O SR. PROFESSOR GARCIA: Sr.
Presidente, Ver. Sebastião Melo; Srª Maria Madalena Rossler, Presidente do
Clube de Mães do Bairro Cristal; prezado Arquiteto Jorge Debiagi, Sras
Vereadoras, Srs. Vereadores, senhoras e senhores aqui presentes, ouvi muitas
coisas, mas faço questão de colocar algumas verdades que talvez não tenham sido
ditas.
Primeiro, a Lei nº 470, de 02 de janeiro de 2002 ,
que é o foco, diz (Lê.): “II - Atividades: Código 15.2, com definição de
ocupação, para uso privado, de atividades de interesse cultural, turístico e
paisagístico, relacionadas no Anexo 5.2 da Lei Complementar nº 434, de 1999,
vedado habitação, comércio atacadista e indústria, e sendo permitido:
a) comércio varejista, exceto depósitos ou postos de revenda de gás, funerárias
e postos de abastecimento que não estejam vinculados à atividade náutica;
b) serviços, exceto oficinas que não estejam vinculadas à atividade náutica;
c) atividades especiais, admitida somente a instalação de arenas esportivas, de
marinas e equipamentos correlatos.” Quando foi adquirida a área, sabia-se
disso.
Também foi dito que está sendo dada uma área. O que
diz a lei? Gostaria que prestassem atenção: “Art. 4º - Na área de que trata o
art. 1º desta Lei Complementar, o percentual destinado à área pública” - ou
seja, quem comprou sabia do percentual destinado à área pública - “será
constituído por um parque urbano com acessibilidade pública, a ser urbanizado
pelo empreendedor, conforme projeto aprovado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente,
privilegiando a integração da população com o Guaíba e seu acesso a toda orla
pertencente à gleba.” Quero ressaltar, porque isso é lei! Então, não venham me
dizer que está sendo mudado, que está sendo concedido. Aprendi desde pequeno
que não existe almoço grátis, sempre alguém paga a conta.
Enfoco o que estamos discutindo aqui, e foi dito:
volumetria de 43 metros. Teremos, de um lado, um morro natural e, do outro
lado, um paredão - essa é uma questão. E há a questão da moradia, que eu acho
que é o foco principal. Nós, como gaúchos, sabemos - há um velho ditado que diz
isto - que onde passa um boi passa uma boiada. Nós nunca autorizamos! Não
existe em Porto Alegre edifício na orla! Tiramos centenas e centenas de casas
que estavam na orla e colocamos no Chapéu do Sol. Tiramos o último
sustentáculo, que era o Timbuca. E agora vamos permitir residência? E como vai
ficar Assunção, Pedra Redonda, Av. Coronel Marcos, Ipanema? Queremos uma nova
Camboriú em Porto Alegre? Essa é a meditação que temos que fazer. Não venham
com a história do modernismo, porque isso é retrocesso! Querer fazer isso na
orla inteira do Guaíba... E é o que vai acontecer se o projeto for aprovado.
Nós vamos ter ali, na Av. Guaíba, edifícios, sim, “só de 43 metros, e o entorno
que se exploda”! Não vamos permitir isso! Não podemos permitir!
Que bom que aqui é o Parlamento, porque, no
Parlamento, se discute com posições diversas. E que bom que haja divergência,
porque a unanimidade é burra! Quero ressaltar que o maior projeto da Cidade, nunca
visto, está sendo realizado pelo Prefeito Fogaça: são 430 milhões, que é o
Projeto Socioambiental, que vai fazer condutos de 1,60m, da Usina do Gasômetro
até o bairro Ponta Grossa. Nós vamos ter, até 2012, balneabilidade até o bairro
Pedra Redonda. Então, quando temos uma possibilidade de balneabilidade, vamos
colocar edifício de 43 metros?! É o que vai acontecer! Quero dizer para os
senhores que, daquela área, o arroio Cavalhada, 1.609 famílias estão sendo
retiradas, e elas vão ganhar as suas residências. Então, existe projeto, sim,
de recuperação da orla, de revitalização. Só quero dizer aos senhores e às
senhoras o seguinte: estou atento, tenho posição e vou usar a prerrogativa que
a sociedade porto-alegrense me concedeu. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE
(Sebastião Melo): A Srª Patrícia Longhi, moradora do bairro Jardim
Isabel, está com a palavra.
A SRA.
PATRÍCIA LONGHI: Boa-noite, senhoras e senhores, Vereadores e
demais presentes. Eu sou moradora da Zona Sul há mais ou menos doze anos, moro
no bairro Jardim Isabel, bairro vizinho ao Pedra Redonda, passo há doze anos
pela Av. Diário de Notícias, pela Av. Icaraí, por todo esse entorno que a gente
está discutindo aqui nesta noite. Ainda que tenhamos conseguido resolver a
questão do calçadão do bairro Ipanema, da retirada do bar Timbuca - e eu sou
freqüentadora do bairro com a minha família, levo a minha filha para andar de
bicicleta na beira do rio, pego meu chimarrão, faço minha caminhada, como
milhares de moradores -, está longe de a gente ter um projeto similar a esse na
Zona Sul ou em qualquer outro lugar em Porto Alegre. Ele me parece um projeto
inovador, que nos aproxima de muitos lugares bacanas. Quando a gente viaja,
temos até uma pontinha de ciúmes: que bom se Porto Alegre tivesse um lugar parecido
para a gente usufruir. (Palmas.) Alguns podem achar que este é um papo burguês,
mas não é um papo burguês, porque a minha filha anda de bicicleta e está
convivendo democraticamente no mesmo lugar do que qualquer cidadão de qualquer
vila ou de qualquer lugar adjacente. E esse lugar, pelo que a gente está vendo
aqui, tem um calçadão público, tem áreas públicas de acesso a todos, permitindo
lazer de qualidade com muito mais segurança do que, provavelmente, o calçadão
de Ipanema ou aquela orla do ex-Timbuca, que, graças a Deus, foi abaixo.
Então, eu acho que há um pouco de demagogia quando
a gente ouve aqui: “Uma muralha de concreto”. E outra coisa, gente, parece que
as pessoas esqueceram que há uma rua ali atrás. Eu acho que existe uma quebra
de paradigmas aqui neste projeto. Parece que as pessoas não se deram conta de
que, na verdade, a geografia mudou, está se propondo uma rua. Os
empreendimentos estão atrás dessa nova rua. Também existe uma rua que tem casas
e residências, e até edifícios, por trás de Ipanema, da Pedra Redonda e da
Tristeza. Há uma rua, esses empreendimentos não estão colados no rio, a gente
tem uma edificação atrás de uma nova rua. As pessoas vão poder bifurcar e
acessar o outro lado. (Palmas.)
Quanto à questão da iniciativa público-privada, no
mundo inteiro a gente tem inúmeros exemplos de que só com a iniciativa privada
se consegue, efetivamente, fazer mudanças sérias e eficientes, seja na
duplicação de uma BR, seja num projeto urbanístico interessante para a
cidade... É muito difícil que a iniciativa pública, sozinha, consiga bancar
mudanças de verdade para Porto Alegre. Alguns questionaram aqui: “Até quando
temos que agüentar isso?” Eu é que pergunto como moradora: até quando temos que
agüentar o Guaíba do jeito que está? Qual é o problema de haver um bar bacana,
um lugar legal para eu tomar sorvete com a minha filha, no final de semana, na
beira do rio? Qual é o problema de haver um lugar legal e bonito? Parece uma
apologia a lugares feios e degradados! (Palmas.) Qual é o problema de se
evoluir, como qualquer grande cidade do mundo? Por que temos que ficar parados
para trás? (Palmas.)
Foi tratada também a questão de Área de Interesse
Cultural. A gente já tem uma evolução com o BarraShoppingSul, que não é uma
Área de Interesse Cultural, que também é uma grande edificação e que está na
mesma distância do rio do que essa nova rua propõe. Área de Interesse Cultural:
será que com o “Interesse Cultural” vamos conseguir bancar uma diferença tão
significativa na paisagem como a que esse projeto propõe? Não me parece. E aí
comentaram também alguma coisa como: “Aquela área está mudando, a paisagem está
mudando.” Que bom! Acho que isso é tudo que a gente precisa para Porto Alegre:
mudança, inovação, ousadia! (Palmas.) E, aí, sim, as pessoas vão poder...
Talvez nem todos tenham acesso a comprar um empreendimento ali... É assim...!
Nos principais centros do mundo também há empreendimentos que são acessíveis e
outros não. Mas na frente tem uma área grande, democrática, uma esplanada
bacana, um píer com um café legal, com um lugar agradável, acessível para 100%
da população. Não há nenhum tipo de exclusão pelo que se vê nesse projeto.
(Palmas.) Acho que a gente tem que ir para a frente. Esse tipo de projeto abre
espaço para projetos novos, seja na orla do Guaíba ou noutros lugares da Cidade
que propiciem o turismo, o consumo, o lazer de qualidade e a segurança. Alguns
falaram: “Cheios de câmeras de segurança nos prédios”. Que bom! Ótimo! Quanto
mais câmeras de segurança houver para a gente sair ao lazer se sentindo seguro,
melhor. Nada contra câmeras de segurança. Que venham as câmeras de segurança!
Obrigada. (Palmas.)
A SRA. TÂNIA FAILLACE: Bom, a gente
está falando ainda é de um projeto habitacional. A gente sabe que, em Porto
Alegre, há quatrocentas mil pessoas em subabitação ocupando setecentas e vinte
vilas irregulares. Considerando uma média de quatro pessoas por habitação, há
um potencial de cem mil residências unifamiliares que dariam muito mais emprego
para a construção civil do que esses prédios pré-fabricados que são construídos
com guindaste. Residências unifamiliares são produção artesanal, tijolinho por
tijolinho, e empregam muito mais gente. Os sindicalistas desse sindicato
deveriam pensar um pouco para saber que deveriam ser contra esses espigões
pré-fabricados, porque eles tiram emprego.
Outra coisa: eu queria saber por que quando se
fala...
(Manifestações nas galerias.)
A SRA. TÂNIA FAILLACE: Bom! Está bom!
As senhoras têm medo dos pobres! O cidadão do bairro Menino Deus quer que tirem
os pobres de perto, porque tem medo de ser assaltado! Ele acha que todo pobre é
um assaltante. O Ver. Nedel, na vez que estive aqui, me disse textualmente que
a privatização da orla do Guaíba e a ocupação por superespigões de luxo é para
impedir as invasões populares...! Então, é o seguinte: por que, quando se fala
de residência, não se pensa num programa de habitação popular para Porto Alegre?
É disso que nós estamos precisando e não de coberturas de luxo!
(Manifestações nas galerias.)
A SRA. TÂNIA FAILLACE: Outra coisa: o
Debiagi eu conheço há muito tempo, ele é um arquiteto muito talentoso, mas esse
seu projeto não é feliz, ele me lembra inclusive o Edifício Metrópole, lá de
São Paulo, com aquelas curvinhas, e tapa o morro, o que não tem sentido. Nas
jornadas do IAB - eu fui, inclusive, jornalista do IAB e depois do Sindicato
dos Engenheiros -, falava-se muito da harmonização, do projeto arquitetônico
com o entorno natural. Eu acho que o Arquiteto Debiagi está muito interessado
na metragem, acredito que ele poderia fazer uma coisa mais harmônica.
Em terceiro lugar, eu proporia que esse mesmo
espaço “não ficasse para os ratos e para as baratas”, mas que se fizesse um
parque público com um espaço especial para a questão infanto-juvenil, com
educação esportiva para crianças e jovens, aproveitando o Guaíba para regata,
iatismo, remo, sob a administração da SMED. Eu acredito que isso atenderia
muito mais aos interesses sociais daquela região, porque existe muita gente que
não tem condições para pagar uma jóia de clube, então aquela área seria muito
melhor aproveitada em relação a isso e justamente para quem está precisando.
Então, a minha proposta, alternativa, é esta: um parque público...
(Manifestações nas galerias.)
A SRA.
TÂNIA FAILLACE: Claro, as “riquinhas” não querem isso! Imaginem
“pobre brincando com o meu filho”!
(Manifestações nas galerias.)
A SRA.
TÂNIA FAILLACE: Isso não surpreende. Eu acredito é no seguinte:
aqueles cidadãos que acham que isso vai dar emprego... Que emprego vai dar lá?
De porteiro? De faxineira? É necessário também um programa de geração de
emprego e renda, mas isso já é outro departamento. Tem-se que fazer isso, e num
parque dedicado aos jovens já se poderia fazer uma “minieducação” visando ao
futuro trabalho. Isso é que tem que ser feito. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Sr. José
Barreto Pereira, da Associação Comunitária Icaraí-I, está com a palavra.
O SR. JOSÉ BARRETO PEREIRA: Boa-noite,
senhoras e senhores; boa-noite, Sr. Presidente; boa-noite, Dona Madalena, Dr.
Lauro; o Arquiteto Debiagi não se encontra presente. Boa-noite aos Vereadores,
aos líderes comunitários. É com grande satisfação que pela segunda vez venho
aqui: uma foi a respeito do Socioambiental, e hoje falo a respeito do Portal do
Estaleiro.
Pelas conversas que houve aqui... Sou muito chato,
porque sou bastante transparente e quero que o coletivo entenda no geral, e não
que uma ou duas pessoas entendam ou uma meia dúzia. Não vejo muito o pessoal da
região do Cristal aqui, por exemplo. Foram convidados, sim, mas muitas vezes,
pessoal, a gente é pé no barro. A gente mora, e (Ininteligível.) às vezes dá no
peito, dá na barriga, dá no pescoço, e o que nos preocupa é que esse projeto é
grande. Realmente, ele tem uma bela de uma estrutura, mas, nas falas que houve
aqui, deu para a gente sentir que, dentro desta própria Casa, existem alguns
Vereadores que estão a favor e outros, a grande maioria, pelo visto, na
concessão disso aí... Inclusive o Sr. Prefeito, pelo visto, não foi favorável.
Eu entendo que a gente tem que lutar pelo coletivo. A gente tem que fazer para
Porto Alegre, não só para a região do Cristal, não só para a orla do Guaíba.
Sou defensor do meio ambiente também, e os senhores estão convidados para
participar, daqui a alguns anos, porque a gente começou a construir em
Brasília, quando estive lá na 3ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, de um
fórum nacional pelo meio ambiente no Brasil.
Quero dizer aos senhores que a gente tem que
construir para Porto Alegre num todo e com a participação, sim, dos Vereadores,
mas que seja no coletivo, que não seja para A ou para B, porque a nossa
preocupação é com aquelas pessoas que estão lá, que estão excluídas, e eu sou
um deles.
E estão ocorrendo, na questão do Socioambiental,
certas articulações que não estamos gostando. Por quê? Porque existem conversas
que vão para a Restinga de que o projeto é isso ou aquilo, mas, quando a gente
pede determinados tipos de explicações, eles não nos dão. Assim como, por
exemplo, já houve, na região do Cristal, uma reunião, e o Arquiteto Debiagi
explicou, e outros lá fizeram vários questionamentos. Eu acho que a gente tem
que pensar... “Ah, porque não é para o Cristal, tem que ser para o porto!” Eu
acho que não é isso, pessoal! A gente tem que lutar para Porto Alegre no geral,
no coletivo, e não pensar no plano A, e não o plano B. Temos, sim, que
negociar, ver a coisa com transparência para o coletivo.
Nós defendemos lá na região que haja, em cada parte
que tiver a construção, a garantia de 30% da mão-de-obra da região. Se hoje
existe, na minha comunidade, o tráfico, quem são os culpados por isso, minha
gente? Sou eu? São vocês? Somos todos nós, porque não fizemos geração de renda.
Essa é uma obrigação de todos nós.
No Fórum Social Mundial, eu levei toda a minha
comunidade e basicamente muita gente da região do Cristal, que não tinha o que
comer, o tráfico corria, e aí uns respeitavam os outros, mesmo tendo suas
divergências, respeitavam, sim, senhores. Então, é isso que a gente quer: a
gente quer, sim, que esse projeto não seja fechado, e sim que ele seja público
e com a passagem... E mais ainda: que as lideranças da região do Cristal sejam
os presidentes e estejam fazendo parte da Comissão, conforme foi nos garantido.
E mais ainda: há a questão das oficinas, que não ocorreram; nós já estamos numa
outra Audiência, e não houve nenhuma oficina. Não foi aprovado o projeto, tudo
bem, mas acho que teria que ter a aprovação, o trabalho coletivo dos moradores
da região do Cristal. A minha preocupação é com todos, senhores.
Com isso quero dizer que também fui conselheiro no
Plano Diretor, fui conselheiro no Comam e hoje sou Presidente da Associação
Comunitária da Icaraí I, no bairro Cristal, licenciado. Bom, pessoal, quero
dizer, para encerrar, que a gente espera apoio. Esperamos que a Prefeitura de
Porto Alegre reveja o conteúdo, que haja a participação, sim, dos Vereadores, e
a construção para o povo de Porto Alegre. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Sr. Sérgio
José Becker, representante da Associação dos Moradores do Centro, está com a
palavra.
O SR. SÉRGIO JOSÉ BECKER: Boa-noite a
todos, na pessoa do Presidente Ver. Sebastião Melo, eu cumprimento todos
presentes. Sou ex-aluno de grupo escolar, de colégio marista, do Julinho, do
CPOR e da UFRGS. Trabalhei trinta anos como repórter nos mais importantes
jornais do País e de Porto Alegre, quando entrevistei as principais lideranças
brasileiras e também os mais simples trabalhadores do campo e da cidade.
Gostaria de citar apenas o agrônomo José Lutzenberger, falecido em 2002, o qual
entrevistei várias vezes em encontros demorados na casa construída pelo pai
dele, na Rua Jacinto Gomes, que deverá se tornar o memorial do ecologista e de
sua luta em defesa do meio ambiente. Da reportagem evolui para literatura:
recebi duas menções honrosas em concursos de poesias, participei de duas
antologias de contos, editei de forma independente quatro livros, dois deles
sobre a religiosidade e a cultura de Porto Alegre. Associativista, participo de
associações comunitárias e de classes de escritores.
Mas aqui, nesta noite, preferiria me apresentar
simplesmente como um porto-alegrense sexagenário e avô da Maria Eduarda, uma
menina atualmente com oito de idade e nascida também em Porto Alegre. No
entanto, a Porto Alegre da Duda é bem diferente da Porto Alegre dos meus oito
anos: eu caminhava para a escola e, quando precisava ir mais longe, dependia do
bonde. Maria Eduarda pode se locomover de automóvel, e, além dos estressantes
engarrafamentos, seu pulmão é bem mais agredido pela poluição atmosférico do
que o meu era há cinqüenta anos. Quanto ao Guaíba, eu recordo que veraneava aos
domingos na praia de Ipanema, para onde ia, viajando na carroceria de um
caminhão, com a turma de amigos da rua onde me criei, no bairro Glória. Há
muito anos não dá mais para tomar banho no Guaíba antes do Lami e da Praia das
Pombas, mas Maria Eduarda tem o privilégio de freqüentar a piscina do Clube
Jangadeiros, onde se diverte correndo atrás de quero-queros.
Antes de iniciar minha argumentação, gostaria de
repetir dois parágrafos da carta escrita, em 1855, pelo cacique indígena
Seathl, carta enviada ao Presidente americano, Franklin Pierce, quando esse
ofereceu a compra, pelo Governo dos Estados Unidos, das terras ocupadas pelos
peles-vermelhas: “Como podes comprar ou vender o céu? Ou o calor da terra? Tal
idéia nos é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da
água. Como podes, então, comprá-lo de nós? Decidimos apenas sobre o nosso
tempo. Toda essa terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas
as praias arenosas, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e
todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu
povo”. E, no final, escreveu: “Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a
amamos; protege-a como nós a protegíamos; nunca esqueças como era a terra
quando dela tomaste posse; e, com toda a tua força, o teu poder e todo o teu
coração, conserva-a para teus filhos, ama-a como Deus nos ama a todos. Uma
coisa nós sabemos, o nosso Deus é o mesmo Deus. Essa terra é querida por Ele.
Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum”.
Então, senhores, permito-me uma analogia, pergunto
aos senhores aqui presentes, às autoridades e a toda sociedade porto-alegrense:
a quem pertence o Guaíba? Certamente não pertence ao Prefeito e aos
ex-prefeitos, nem aos Srs. Vereadores, nem a um grupo deles e, muito menos, aos
empreendedores da construção civil! Na verdade, historicamente, o Guaíba pode
proporcionar algum sentimento de pertencimento nos pescadores, legítimos
herdeiros dos primeiros habitantes desta terra, os indígenas, que deixaram
vestígios de sua presença na região das ilhas, onde vinham buscar o peixe, o
alimento. Também historicamente permite o sentimento de pertencimento aos
herdeiros dos casais açorianos, que, há 226 anos, desembarcaram na área da
Usina do Gasômetro e iniciaram o povoamento da Cidade. Açorianos que foram
pioneiros, pois Porto Alegre é uma Capital brasileira que pode se orgulhar de
ter o seu povo formado por quarenta etnias e nacionalidades diferentes. Para cá
vieram imigrantes das mais diversas origens, como o meu falecido pai, o enfermeiro
José Becker Filho, falecido em 1974, filho de imigrantes alemães. Aqui ele
construiu a sua casa, criou a sua família e trabalhou 25 anos no Hospital de
Pronto Socorro; como minha falecida mãe, morta em 1992, que deixou sua cidade
natal, Zurique, na Suíça, e, aos 16 anos de idade, desembarcou no porto da
Cidade tangida pelo sonho de construir a América. Embora essa tamanha
diversidade e o privilégio geográfico - já concluo, Sr. Presidente - de
estarmos no Centro do Mercosul, eqüidistantes de São Paulo e Buenos Aires,
somos um povo único e determinado, não nos limitamos a um dialeto, falamos
“portoalegrês”, conforme está consubstanciado ao dicionário do Professor
Augusto Fischer. Ainda sobre pessoas mais recentes se poderia afirmar que o
sentimento de pertencimento do Guaíba compete aos moradores da Zona Sul da
Cidade, em especial à gente simples e trabalhadora do bairro Cristal, nome dado
ao Bairro devido à água cristalina ou por causa das pedras que reluziam no
morro na época do povoamento da região. Gente que foi tangida das áreas mais
nobres da Cidade para morar perto de seus empregos, no Hipódromo e no
Estaleiro.
O rio Guaíba pertence aos peixes, que teimam em
habitá-lo e ainda servem de alimento e de sobrevivência aos pescadores e
ilhéus; pertence aos pássaros que sobrevoam, como os biguás, ou os que se aliam
às margens, como os quero-queros; pertence aos navegadores, sejam
trabalhadores, turistas; pertence a todos nós, que não podemos perder o direito
de olhá-lo e amá-lo.
Por isso repito aqui, agora, o que bradei há cerca
de três anos, na primeira investida de privatização da orla: nós,
verdadeiramente porto-alegrenses, somos por um Guaíba livre. Obrigado.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Quero apelar
para que se cumpra o tempo estabelecido, afinal de contas, nós poderíamos ter
feito dez inscrições, mas concedemos vinte e cinco inscrições. Se os senhores
passarem o tempo, serei obrigado a cortar a palavra, coisa que não gostaria de
fazer.
O Sr. Felisberto Luísi, da ONG Despertar Coletivo,
está com a palavra.
O
SR. FELISBERTO SEABRA LUÍSI:
Boa-noite a todos e a todas; saúdo o Presidente desta Casa pela atitude
democrática, permitindo que todos falem e não cortando o espaço de ninguém.
Então, primeiro, parabenizo o gesto democrático de V. Exª e de participação
cidadã nesta Cidade, uma característica que atrai turistas de todo o mundo.
Nunca veio tanta gente a Porto Alegre como no Fórum Social Mundial. Nunca as
pessoas gostaram tanto de ver a esquerda em Porto Alegre, porque trouxeram dólares
para a iniciativa privada, para os hotéis, para os restaurantes, para o turismo
desta Cidade, sem construir uma obra na orla. Vieram pela característica da
participação cidadã de Porto Alegre. E fala um cidadão que conhece alguns
lugares no mundo. Não é um cidadão eventual que é contra o progresso. Hoje o espaço
usado em Barcelona é da aristocracia, porque a população não freqüenta aquele
espaço, ela está excluída pelo preço dos produtos vendidos lá. Então, não
podemos elitizar a orla do Guaíba. O aspecto de uma sociedade democrática está
em abrir o espaço público a todos.
Falou o Garcia aqui - ele tem razão quando fala -
em habitação popular; estão excluindo comunidades que construíram aquele
bairro, por uma questão de empreendimentos, do capital em detrimento ao que a
sociedade construiu ali, para elitizar um bairro para quem? Os moradores estão
sendo expulsos daquele lugar que construíram e onde educaram seus filhos. Temos
que pensar naquela gente, como muito bem falou o Garcia, mil e poucas famílias estão
indo para a Rua Cristiano Kraemer. Nada contra a região sul, que é um belo
lugar para se viver, em que hoje estou morando, pois o meu pai faleceu e tive
que vender o apartamento perto da Catedral.
E fala alguém que ama esta terra, que nasceu em
Porto Alegre, que é porto-alegrense e que viu a Igreja das Dores, quando vinha
de Cruz Alta, pela BR 290. Hoje, quem vê a Igreja das Dores? Quem? Porque
aquilo é um patrimônio da Cidade, e hoje tem o Monumenta, que investe mais de
dez milhões para proteger o patrimônio construído pela cidadania de Porto
Alegre. Sobre a região Centro: quando se fala em revitalizar a Cidade, temos
que pensar em humanizar a Cidade, e não revitalizar para prédios. Debiagi, eu
quero te saudar, porque o teu projeto é ousado. Eu queria que o teu talento
estivesse a serviço das classes populares, viabilizando projetos urbanísticos
para a população de baixa renda. Queria que a iniciativa privada desta Cidade
investisse em urbanização nas vilas populares, que são mais de quatrocentas!
Então, nós temos que pensar se queremos
urbanizar... para proteger quem? O patrimônio em detrimento da miséria, da
elitização desta Cidade, invocando a população pobre para cada vez mais longe
da Cidade? Eu prefiro freqüentar um bar do Mercado Público, que é aberto a
todos. O Café do Mercado está lá, é um espaço público que foi revitalizado, e
qualquer um tem acesso a ele. Alguns dizem: “Não tem segurança”, mas não tem
segurança porque nós não ocupamos, porque nós nos acovardamos e ficamos em
casa, protegidos por cercas, quando deveríamos ocupar a Cidade, para evitar que
outros a ocupem.
Quero
dizer aqui que, quando falamos da querência, a gente tem que respeitar as
tradições deste Estado. Os gaudérios devem ser respeitados, e aquele espaço
conquistado no Parque Harmonia foi discutido com toda a Cidade, e foi
construída uma Estância para eles, para viabilizar a tradição deste Estado, e
aqui fala um de origem italiana, que muito bem falou que espoliamos
o Brasil, mas ajudamos a construir. Sou herdeiro dessa tradição italiana, de
valorizar os espaços culturais. Quero fazer uma proposta: por que não
construir, naquele espaço, um centro cultural para que toda a região ali do
Cristal possa usufruir, viabilizando oficinas de geração de trabalho,
urbanizando e construindo um parque que viabilizasse o acesso à população? E aí
eu quero perguntar, porque aqui é um leigo, um simples advogado nesta Cidade:
qual será o custo para Cidade na questão da infra-estrutura de esgoto? Vai ter
uma usina de tratamento para os dejetos desses prédios? Qual é o custo disso?
Quem vai pagar isso? Abrir uma via expressa... Nós, da região sul, estamos com
a Av. Juca Batista aberta. A população ali da Av. Juca Batista não usufrui
daquela comunidade. Por quê? Porque os veículos passam em alta velocidade.
Quero agradecer o espaço, alonguei-me demais, mas
agradeço. Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Ver. Dr.
Goulart está com a palavra.
O SR. REINALDO BARRADAS LEIRIA: Ver. Sebastião Melo, Presidente da
Câmara; demais integrantes da Mesa, senhoras e senhores, em nome da Sociedade
de Engenharia, na condição de membro do Conselho Deliberativo, também como
integrante da Diretoria da entidade e integrante da representação da Sociedade
de Engenharia perante o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e
Ambiental, venho trazer a manifestação oficial da Sociedade de Engenharia do
Rio Grande do Sul de aprovação a esse magnífico projeto do Arquiteto Jorge
Debiagi. A Sociedade de Engenharia tem convicção de que projetos como esse só
farão engrandecer a cidade de Porto Alegre e inscrevê-la dentro do cenário
turístico nacional e internacional.
Esse arrojado Projeto ficaria bem inclusive em
Dubai, onde se implantam hoje os melhores, os mais caros e os mais valiosos
projetos de arquitetura mundial. Então, esta visão menor, de que Porto Alegre
não deve ter a sua orla valorizada, de que a orla de Porto Alegre deve ser
mantida como quando aqui chegaram os primeiros casais açorianos para a sua
fundação, é uma visão retrógrada, com a qual a Sociedade de Engenharia não pode
concordar. (Palmas.) A Sociedade de Engenharia estará sempre apoiando projetos
como esse, naturalmente que sejam desenvolvidos dentro da melhor técnica, da
boa engenharia, para o que não faltam recursos técnicos ao devido
disciplinamento. Então, Arquiteto Debiagi, meus parabéns, sucesso; espero ver
ainda este projeto implantado. Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Sr. Roberto
Jakubaszko, da ONG Paralelo 30, está com a palavra.
O SR. ROBERTO JAKUBASZKO: Boa-noite,
Sebastião Melo, Vereador-Presidente desta Casa; ao cumprimentá-lo, cumprimento
toda a Mesa, todas as autoridades presentes. E, ao cumprimentar a jovem Naira,
lá, lindeira e moradora do bairro Farroupilha, eu cumprimento todos aqui
presentes. Não se trata de ser contra ou a favor: trata-se de uma questão de
posicionamento. Eu moro há muitos anos em Porto Alegre e também já tomei banho
onde é aquele viaduto no fim da José de Alencar. Quanto à questão de a zona ser
uma região de reserva cultural, isso é muito importante, gente. No final deste
mês, no final de agosto, comemora-se uma data muito importante em Porto Alegre,
que foi a Universíade, que ocorreu em Porto Alegre. Alguém lembra disso? Então
é importante a gente ter memória e respeitar as particularidades de cada
região.
A orla do Guaíba é extensa, ela tem setenta e
poucos quilômetros. Há alguns anos - não muitos, nos anos 90, 95 -, a Vila
Cai-Cai teve que sair dali, porque ninguém poderia habitar a orla. Ela saiu, a
Vila Cai-Cai, e foi para longe. Como ela vai ficar hoje refletindo? O projeto é
muito bonito, Debiagi; é bonito o estudo, aliás. Agora, como a gente vai
trabalhar com essa relação, isso é complexo.
Ali, no meio desse estudo, passa a Sanga da Morte,
que fica ali, é o nome de uma sanga que tem ali. Historicamente, Porto Alegre
trabalha com valores locais. Eu tenho algumas reflexões a fazer: por exemplo, o
aumento do fluxo de pessoas ali vai aglutinar o fluxo de carros. Muitas pessoas
falaram aqui de poluição, isso é verdade, mas a sensação que eu tenho é que
daqui a pouco nós vamos começar a aterrar o meu Guaíba - que eu chamo de rio,
tem gente que chama de lago. E a legislação federal diz que no caso de rio, a
500 metros a partir da maré mais alta, não se pode construir; em lago pode. Eu
tenho algumas dúvidas em relação a isso. Então, questiono: vão aterrar por trás
do estacionamento? A população não vai perder mais espaço público? Esse é só um
questionamento. E gostaria de perguntar: segundo o art. 64, da Lei de Crimes
Ambientais, construções, em Área de Preservação Permanente, sem caracterizar
utilidade pública ou interesse social não é crime? São questionamentos que a
gente faz.
O estudo é bonito, agora como vai ficar Porto
Alegre? Não é só o Estaleiro, ali tem o BarraShopping, tem o Sport Club
Internacional, há vários projetos. Em breve vamos estar lá na Praia do Veludo
com muitos projetos, e a população vai ter dificuldade em relação à construção
de moradia para pessoas de baixa renda. Porque vai ter muros no Pontal do
Estaleiro, apesar de haver área pública ali. Mas a área de habitação não vai
ser área pública, e eu vou me lembrar constantemente da Vila Cai-Cai, que saiu
dali. Como dizer para os moradores da Vila Cai-Cai: “Vocês saem, e eles ficam?”
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Sr. Franco
Werlang, do Conselho do Meio Ambiente de Porto Alegre, está com a palavra.
O SR. FRANCO WERLANG: Boa-noite,
senhores; cumprimento o Sr. Presidente, a entidade solicitante e a Câmara pela
iniciativa da Audiência. Obrigado a todos que aqui estiveram e a todos que
ainda estão. Cumprimento o Arquiteto Jorge Debiagi pela enorme evolução no
projetar, principalmente se consideramos o projeto dele da Av. Protásio - marco
municipal de insustentabilidade. É conhecido e reconhecido como tal. Melhorou
bastante! Mas ainda falta muito para o seu projeto poder ser visto como um
projeto integrado e sustentável e comparado com coisas que estão acontecendo no
mundo inteiro. Mas eu não o culpo, como viabilizar investimento de um quarto de
bilhão de dólares numa pequena área, que seria bela, la pura natureza?
Muito já foi dito, pouco resta a dizer, mas vale
ressaltar que o investimento já realizado equivale, no máximo, a dez
apartamentos de primeira linha - é disso que estamos falando - por todo o
terreno! Será que os demais concorrentes, que eles citaram, poderiam imaginar
que não precisariam respeitar o que já foi levantado pelos que me precederam?
Sim, cabe um projeto sustentável de aproveitamento da área que respeite o
interesse público, todo o interesse privado - não de alguns - e o ambiente
natural. É óbvio que para garantir um retorno de investimento que remunere
justamente o capital investido não é necessário tanto impacto quanto o da
proposta. A gente pôde ver o tamanho do volume dos prédios em relação a Museu
Iberê Camargo, isso que a fotografia tem uma questão de perspectiva. Não dá
para imaginar o tamanho efetivo do impacto visual desses prédios. Não é uma
questão de ver o pôr-do-sol do Guaíba; a gente não vai ver nunca. Vão ser
vistos os prédios de todo o lugar em Porto Alegre.
No final, Srs. Vereadores, esperamos novas leis,
leis que mudem, leis em favor do ambiente natural e humano, leis que
qualifiquem a Cidade como um todo, leis que respeitem a integridade de nosso
povo, de nossa cultura, de nossa gente, de nosso ambiente. E falo por
Lutzenberger. Agradecido. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Sr. Joelci
Wolkmer, morador do bairro Vila Assunção, está com a palavra.
O SR. JOELCI WOLKMER: Boa-noite,
Sr. Presidente, demais Vereadores e senhores presentes. Eu não tenho o poder da
oratória, vou falar simplesmente como cidadão e morador do bairro Assunção.
Moro no Assunção há 28 anos, criei meus filhos lá, e até hoje jamais um filho
meu pôde sair do Assunção e caminhar, circular em volta do Hipódromo do
Cristal. São 28 anos... Tenho um apartamento que fica no expoente da vila, em
frente ao que se chama de Vila dos Pescadores - que, realmente, de pescadores
não tem nada! Tem ali um comércio irregular, tem uma peixaria que vende camarão
e filé de linguado - não sei se tem isso no Guaíba. E as pessoas das casas ali
- motivo pelo qual eu não consigo ter vista do Guaíba, porque tem uma vila na
frente; eu não tenho vista do Guaíba - constroem um piso, vão para o segundo e
passa a ter o terceiro. Eu acho que as pessoas que aqui falaram sobre o estuário
do Guaíba, sobre a vista, não moram no bairro, não sei por que estão falando.
Porque eu circulo pelo Centro, passo em direção à Zona Sul... Eu moro ali; e
muita gente que falou nem sabe o que tem ali. “Ah, estão falando no sentido
geral; Guaíba sentido geral: vista, pôr-do-sol”, mas essa pessoa não mora ali.
Há uns sessenta dias, o Sr. Presidente, junto com o
Ver. Professor Garcia, participaram de uma reunião na Associação, no Clube de
Mães da Assunção. Eu estava presente e fiquei envergonhado. Não consegui falar,
porque, lá, quem falou - eu não vou dizer os vileiros - foi o pessoal, os
pescadores simples da vila; vila essa onde tem trafico de drogas, comércio
irregular... Tem! Todo mundo sabe disso. Ali os moradores não puderam falar
nada, porque sentimos olhares ameaçadores. Eles são hoje os atuais donos do
pôr-do-sol do Guaíba. Há 28 anos eu moro lá e não consigo levar a minha família
para caminhar em volta, para circular na beira do Guaíba. E eu vejo um projeto
desses, magnífico; então, talvez os meus filhos, meus netos - não sei se eu vou
conseguir - vão circular e ter acesso com segurança lá no Guaíba, que vai ter
um empreendimento magnífico! Entendo como magnífico não só para nós, mas para o
turista. A maioria do pessoal que visita Porto Alegre pega um ônibus de
turismo, segue o estuário do Guaíba onde começam a passar as favelas, não
menosprezando o pessoal simples, não dizendo que eles estão morando ali porque
não têm onde morar. Aliás, se eles morarem lá, eles têm vantagem, porque hoje
está saindo um shopping, e eles estão vendendo, quem não quiser uma
casa, ganha quarenta mil reais. Eu acho que muita gente trabalha o ano todo e
não ganha quarenta. Então, quando sai um, o outro já constrói. O shopping
está construindo, sai uma casinha, vem outra.
O
pessoal que falou aqui sobre o Guaíba, sobre o estuário, enfim, veja isso
também. E o cidadão que paga o seu imposto e não pode circular? E, quando tem
um projeto desses, que vai ter segurança... Pô, falaram que o projeto tem
segurança, que as pessoas não têm privacidade. Privacidade eu tenho de
caminhar.
Então, eu só quero salientar o seguinte: acho que
vai ser um projeto magnífico, as pessoas que têm de dar opinião não são as que
moram na Zona Norte, da associação lá do outro lado da Cidade; quem tem de dar
opinião é o pessoal que mora no Assunção, é o pessoal que mora na Tristeza, é o
pessoal que circula todo o dia por aquela avenida! E peço o seguinte: antes de
criticarem o projeto... Eu, por exemplo, só um aparte, não consigo visitar o
Morro do Osso, nem o senhor, porque, hoje tem gente lá, e ninguém entra! Mas,
se tivesse um projeto lá, uma empresa organizada, eu e o senhor entraríamos,
não é, Ver. Beto Moesch? Mas está difícil, eu tenho medo! Por favor, o projeto
é bom, não vamos deixar, associação, virar um momento político, vamos deixar os
moradores falarem! Somos nós que precisamos, somos nós que moramos lá! Nós não
vemos o sol, e vai ser um projeto bonito!
Desculpe-me, eu não sou orador, era só uma
mensagem. Eu gostaria que tivesse mais gente do meu Bairro para falar disso.
Enfim, às vezes, a comunidade toma conta, ela vive um momento político, e a
gente, que é do Bairro, não participa. Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Sr. Henrique
Ledur, do CCD Tristeza, do CCJustiça e Segurança Menino Deus, está com a
palavra.
A questão que se coloca é de natureza ética, não vou
me aprofundar nas questões ambientais, nas questões urbanísticas, nós não
devemos confundir as coisas. Eu não estou defendendo o impedimento da
realização de um projeto arquitetônico de ocupação e de aproveitamento do
Estaleiro Só. O que estou questionando é a autorização para ter doze andares,
eu estou questionando é esse direito de construir segundo parâmetros superiores
àquilo que a legislação atual prevê, à qual eu, os senhores e as senhoras somos
submetidos, estou questionando a violação dessa lei para permitir um privilégio
individual a um único proprietário. Não é função do Estado, não é função do
Poder Público gerar enriquecimento sem mérito a um indivíduo ou empresa, e sim
proteger a sociedade do exercício da força, das espertezas e de exorbitações de
direitos. Nós não devemos imaginar que as pessoas que estão questionando as
características do processo de aprovação desse anteprojeto não queiram o aproveitamento
da área, não queiram gerar empregos no local. Agora, quem conhece um pouco de
economia e estuda o assunto sabe que a produção de um empreendimento altamente
concentrador de renda como este, digamos, com cinco mil apartamentos e
escritórios, não gera demanda, ela concentra a demanda que, naturalmente, a
sociedade, a economia de Porto Alegre oferece. Se a Prefeitura não aprovar os
cinco mil, numa hipótese, e aprovar três mil ou dois mil e quinhentos, outras
empresas deverão satisfazer essa demanda, os empregos estarão garantidos,
apenas distribuídos na Cidade inteira.
Então, eu insisto, a questão é ética, é moral. Até
que ponto o Poder Público vai proporcionar o enriquecimento sem causa de uma
entidade empresarial ou de indivíduos em prejuízo do direito do restante da
população que está submetida à lei? E me preocupa que, em nenhum momento, eu
ouvi falar aqui sobre compensações aos operários do Estaleiro Só, que tiveram o
recebimento dos seus direitos insuficiente, insatisfatório, por conta das restrições
de avaliação do imóvel, que foi oferecido ao leilão sem esses privilégios que
estão sendo pleiteados agora. Em nenhum momento eu ouvi falar em compensações à
sociedade por esse enriquecimento sem causa na forma de oferta de urbanização
ou de casas populares em outros locais. É isso que eu gostaria de estar ouvindo
aqui, nesta Casa popular. Muito obrigado, boa-noite. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Concedo a
palavra, como penúltimo inscrito, ao Sr. Antônio Ruas, do Núcleo de Educação em
Saúde Indígena.
O SR. ANTÔNIO RUAS: Muito
boa-noite a todos. Ver. Sebastião, serei breve, não vou ocupar, provavelmente,
todo meu tempo. Eu estou vindo de uma jornada, Vereador e companheiros em
geral, desde as sete e meia da manhã estou dando aula, lecionando, sou
professor universitário na UERGS e também na Faculdade Metodista, mas não
poderia deixar de vir aqui, Vereador, para ver o que é esse projeto. Noto,
estarrecido, que ele é muito pior do que qualquer um que veio aqui hoje possa
imaginar. E, vendo a seqüência de eslaides ali no projetor, fica cada
vez mais claro que, na verdade, pessoal, se trata de outro avanço, um
verdadeiro assalto ao patrimônio natural na idéia de substituir isso que é
patrimônio de toda a população, não só da nossa geração como das próximas, por
um concreto, por um projeto de quatro espigões e calçadão, e ainda com o acinte
de dizer que as pessoas vão ter satisfação, em vez de pisar na mata ciliar, na
mata marginal, que inclusive é patrimônio nacional e é protegido - portanto o projeto
pode, inclusive, ser derrubado na Justiça, que é uma das questões que eu quero
salientar aqui no final -, se contentem em observar um paredão, como já foi
colocado aqui, de concreto e que vão pescar no Guaíba, que não tem como ser
recuperado com esse tipo de empreendimento.
Se nós deixarmos, vai ser a orla, depois serão os
morros da Cidade, e todo o nosso patrimônio natural vai desaparecer em cima
dessa lógica, que é sempre a mesma: é retirar a população, retirar o acesso ao
patrimônio natural, principalmente da população pobre, que inclusive é o que
está acontecendo ali no BarraShopping, um área já profundamente degradada.
Então, retiram-se as populações pobres e se faz esse tipo de empreendimento
para excluir todo mundo, porque é evidente que vai ser fechado.
É estarrecedor, meus amigos, ouvir aqui do
Arquiteto que propõe o projeto desastroso que o acesso vai ser público; acho
que V. Sª não mora na área, porque se morasse saberia que não tem como caminhar
na orla do Guaíba, ela é toda esquadrinhada. Na volta da Av. Cel. Marcos,
inclusive não sei onde o orador que me antecedeu aqui mora, mas certamente ele
não anda por ali, porque não é possível caminhar ali: a partir da Sociedade de
Engenharia, já é tudo privado, são os condomínios; o Morro do Sabiá é privado.
Lamentavelmente esta Administração não tomou nenhuma providência para retornar
esse patrimônio para a população, e não adianta querer culpar populações,
comunidades pobres, como no caso do Morro do Osso, que estão lá, isso sim,
impedindo um novo avanço imobiliário. Não é verdade que eles são sinônimo de
degradação e sujeira, como foi dito aqui, é o fim do mundo a gente estar
ouvindo aqui depoimentos que querem culpar os pobres da Cidade pela devastação
ambiental, quando quem está promovendo essa devastação é esse tipo de projeto
que vai nos retirar a orla, retirar o acesso.
O projeto que a gente gostaria de ver aqui,
Vereador, é o projeto de revitalização no sentido da recomposição ecológica,
Arquiteto Debiagi; acho que V. Sª deveria estar trabalhando nisso, na
recomposição. Se aquela concessão do Estaleiro terminou, um projeto de
recuperação daquela mata ciliar, que eu insisto, é um patrimônio que será
preservado, inclusive na Justiça... Esse projeto, do meu ponto de vista, é
ilegal. O projeto que a gente quer é a revitalização daquele ecossistema ciliar
marginal do lago Guaíba, que é fundamental, inclusive, para a recuperação do
lago Guaíba, pessoal. Esse tipo de empreendimento vai detonar qualquer tipo de
possibilidade de a gente recuperar o nosso principal manancial hídrico; por
isso ele é considerado o ecossistema prioritário para preservação. Leiam a
legislação ambiental nacional, leiam a legislação ambiental estadual! Vocês vão
ver que não é possível um empreendimento desse tipo, que termina com todo o
tipo de patrimônio natural da vegetação que ali existe, substituindo tudo por
um concreto.
Estarrecedor também, para concluir, é comparar esse
tipo de empreendimento e dizer que será igual a Florianópolis na Barra Norte,
que é um local profundamente alagado, Arquiteto - V. Sª não tem andado por lá!
Em primeiro lugar, aquela área é poluída, ninguém vai lá, e é alagada. São
Paulo é todo concretado e todo alagado. Portanto, foi dito aqui um monte de
inverdades; os turistas vão a Manaus para ver o encontro das águas, para ver
hotéis, inclusive, integrados à mata. Ninguém está fazendo esse tipo de projeto
que V. Sª apresenta aqui para destruir a Floresta Amazônica. Não, eles vão lá
para ver a integração com o patrimônio natural.
Portanto, o projeto é catastrófico, é inaceitável,
e nós precisamos, pessoal, trabalhar no sentido de que os Vereadores mais
conscientes derrubem esse projeto, e também promover manifestações públicas.
Estamos pensando em fazer a primeira já nesse sábado, vamos inclusive deixar
nossas famílias, nossos trabalhos, mas, nesse momento, isso é importante. Senão
essa coisa horrorosa e catastrófica vai acabar passando. E também conclamo as
associações e ONGs para que entrem na Justiça a fim de que a gente vete e barre
esse tipo de projeto. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Sr. Miguel Virgílio Petkovicz, morador do bairro Cristal e velejador,
está com a palavra.
O SR. MIGUEL VIRGÍLIO PETKOVICZ: Vereadores;
meus Vereadores da DCE, o Nedel e o Beto Moesch; meus colegas do CREA, o
Arquiteto Debiagi e o da Sociedade de Engenharia, eu também sou engenheiro, mas
falo como morador. Já fui morador do bairro Boa Vista, do bairro Sarandi e
agora vim para a Zona Sul por causa da água, do rio, do lago, que eu vou chamar
só de Guaíba. Além de morador do bairro Cristal, da Rua Jataí com a Rua
Itapitocaí - bem indígenas -, sou usuário do Guaíba, eu velejo de monotipo,
curto as águas do Guaíba. O Beto já visitou o clube que eu freqüento e sabe do
lançamento de esgoto direto de um coletor que vem do Hospital da Brigada e dos
espigões que há por ali. Eu li, do Nedel, o projeto e acompanhei. Não quero
repetir o que já foi falado aqui para não estourar tempo, mas quero exercer o
meu direito de cidadão e de conhecedor de algumas cidades do mundo; inclusive,
recentemente estivemos em Puerto Madero.
No projeto eu não vi, em nenhum momento, a mesma
vista que eu tenho e vocês, provavelmente, não, que é a vista do rio para o
morro. Então, alguma coisa que passe da cota do Museu Iberê vai afetar aquela
região. Sobre o impacto ambiental, não será só o lançamento de afluentes. Vai
haver estação de tratamento? Vai. Agora, o assoreamento do canal do Guaíba -
agora vai ter que desassorear Rio Grande para poder colocar novos calados e tal
- é influenciado por isso. Eu freqüento um local muito próximo da obra com um
veleiro monotipo, é o laser, o mesmo
que está na Olimpíada, cujo veleiro, o Robert Scheid, ganhou várias medalhas. É
um barco simples, para uma pessoa que fica a pouca distância da água, e, quando
eu estou na água, a poluição me afeta. Então, naquela área ali - eu fiz na SPM,
agora, um trabalho sobre a realidade virtual, justamente para uma empresa de
arquitetura - falta a vista do Guaíba, da lâmina da água olhando para o morro.
Catorze andares vão afetar e muito o vento. Eu organizo regatas. Chegar naquela
região sem aqueles prédios já é um horror. Tem um canal de navegação ali.
Recentemente, um navio se desgovernou, perdeu o motor e foi parar quase dentro
da piscina do Sava. O meu colega que mora ali nos prédios, fica na baixada,
entre o Veleiros e o Sava, antes da curva dos bombeiros, não tem a vista,
talvez more muito próximo do piso... O navio foi parar quase dentro.
Uma das transparências mostra que, na frente do
Museu Iberê Camargo, nós temos umas bóias do canal de navegação; talvez seja
necessário mexer a bóia 142 para dar mais espaço, para evitar que algum navio
sem governo venha parar junto ao estacionamento do prédio. Parece-me - eu
estava tentando conectar no Google Earth para poder olhar - que não há todo
aquele espaço que está colocado ali. Então questiono a avenida, que vai ficar
na beira do lençol da água. A marina, provavelmente, não vai ser pública.
Então, aqui mais para baixo, está a bóia do canal, e a marina vai estar sendo
colocada ali. Haverá um risco em potencial, mas esse é um problema de quem
estiver usando a área ali, talvez a marina seja pública, já que a avenida vai
ser pública também, então eu vou poder me estabelecer ali.
Eu não sou contra, mas a favor de respeitar os
limites da concorrência pública, do leilão que houve. E não quero, ali naquela
região, uma nova Camboriú, uma nova Florianópolis, com o cânion urbano.
Mesmo que tenha a vista, eu gostaria que fosse dada uma atenção especial, já
que o BarraShopping tem toda uma cota, e vai ter um espigão único, que
casualmente tirará a minha vista do rio, para poder ver como é que eu vou
velejar naquele dia, além de afetar quem está passando na beira do rio. Então,
vou precisar, talvez, ligar motor ali, eu sou movido ao vento, à vela... Só que
assim: todos os ventos são favoráveis para quem sabe aonde quer ir. Como
cidadão, respeito a opinião do desenvolvimento, não quero o retrocesso de Porto
Alegre, agora não são necessários doze andares. Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Ver. Adeli
Sell está com a palavra.
O SR. ADELI SELL: Meus caros
componentes da Mesa, colegas Vereadores, senhoras e senhores, cidadãos e
cidadãs, nós temos uma história de trabalho de ética e coragem. Não peçam que
eu fique em cima do muro, que não tome posições em relação aos projetos que
esta Casa discute. Eu sempre gosto de ouvir a população, faço reuniões quando
penso na idéia de um projeto de lei. Os projetos que vêm do Executivo... E
eles, principalmente nesses últimos tempos, têm vindo aos borbotões, em cima do
laço, para decisões precipitadas, e eu sempre me oponho. Já fazia isso quando
acontecia, de vez em quando, na Administração do meu Partido. Não me pauto por
situação, nem por oposição, guio-me por princípios. Vou estudar mais, embora já
tenha estudado bastante esse projeto.
Mesmo antes do leilão, Ver. João Antonio Dib, aqui
eu fiz um seminário em 2005, convidei os colegas Vereadores, convidei a
sociedade, convidei os trabalhadores do Estaleiro, Diretores do Estaleiro,
convidei também o Debiagi e outros profissionais para debaterem um projeto de
futuro para o Estaleiro, porque achava intolerável que uma Cidade como Porto
Alegre continuasse de costas para essa imensidão de águas. Intolerável! Porque
nós temos um problema antropológico em relação ao rio ou lago, seja lá o nome
que se queira dar.
Nós fizemos recentemente um debate na nossa
Comissão de Economia, Finanças e Orçamento. E hoje houve uma rebordosa, porque
o Ver. Adeli Sell votou contra o parecer do Ver. Professor Garcia. Eu votei
contra porque nunca vi nesta Casa um Relatório de 14 páginas de repetição, de
repetição das mesmas coisas, para jogar tudo de volta para o Executivo, quando
o Executivo não quis tomar posição sobre esse tema. Eu quero tomar posição. Eu
não quero atropelo de nenhuma lei ambiental. Quero discutir mais com os
ambientalistas, porque me considero um deles! Sou autor da Lei da Reciclagem,
eu sou batalhador pela reciclagem do óleo de cozinha, trabalhei a questão das
carroças recentemente, porque acho uma indignidade o trabalho que é feito hoje
em Porto Alegre. Eu vou trabalhar para convencer as pessoas de que aquilo que é
preciso fazer se faça. Fiz a emenda para que houvesse o tratamento de esgoto
cloacal, mas o parecer do Ver. Professor Garcia derrotou a minha emenda. Agora
eu tenho que estudar com o meu Diretor Legislativo, com a Procuradoria desta
Casa uma norma jurídica para ver como retomo essa questão, porque estou
preocupado com as coisas que se jogam no Guaíba!
É bom lembrar que, antes de ser esse abandono que
está aí, havia o Estaleiro, mas, antes do Estaleiro, ali era o depósito de
dejetos fecais de toda a cidade de Porto Alegre, algo que ninguém lembra, que
todo mundo esquece, e não há acessibilidade pública a esse espaço. Hoje há onde
era o Timbuca! Hoje há onde era o Timbuca, porque o Timbuca foi uma invasão e
tinha que ser derrubado, porque era ilegal. E eu sou um lutador pela
legalidade! Inclusive, se há coisa errada, muda-se a lei, modifica-se a lei,
trabalha-se pela melhoria, trabalha-se pela população! Eu, como muitos que
estão aqui, discursei pelo povo da Vila Cruzeiro, que, cansado com muita
“discurseira”, já foi embora, inclusive quem falou. Inclusive quem falou! Mas
conheço o povo da Cruzeiro que estava hoje à noite aqui. Eu me reuni com eles
no final de semana, eles pedem emprego, e eu disse para eles: “Se vocês não
tiverem o Poder Público treinando mão-de-obra, capacitando, vocês não terão
emprego nem no Estaleiro, nem no BarraSul; vocês não terão qualquer emprego”.
Eu penso na população carente, na população pobre,
mas penso no sentido de que nós todos tenhamos mais ou menos condições de
acesso público, como está sendo discutido aqui. Podemos discutir a vegetação,
podemos discutir as pedras, podemos discutir o tipo de articulação que vai
haver naquele espaço, mas acho fundamental que se acabe com a triste história
da “grenalização” de Porto Alegre. Eu gosto de ver o Grêmio e o Inter
disputando, mas acho que é um atraso histórico para Porto Alegre a “política do
8 ou 80”; não para ficar em cima do muro, porque eu nunca fico em cima do muro,
eu tomo sempre posição, mas para que se tome a melhor posição para a cidade de
Porto Alegre. E a Câmara de Vereadores tem obrigação de fazer isso.
É uma pena que, dos 36 Vereadores desta Casa, poucos
estiveram hoje aqui, poucos têm coragem de “botar a cara para bater” e discutir
os seus projetos. E, se não vêm aqui, imaginem se irão à comunidade da
Cruzeiro, do Cristal - eu duvido! Isso também é demagogia. Se não têm coragem
de vir aqui na Câmara discutir, imaginem se vão ouvir uma ONG ambientalista,
imaginem se vão ouvir um clube de mães ou uma entidade. Eu sou povo como é o
povo de Porto Alegre, que quer o progresso com a preservação, com a inclusão
social e uma vida melhor! Muito obrigado. (Palmas.)
O SR.
PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Arquiteto Jorge Debiagi está com a palavra para
fazer suas considerações finais. Ele terá dez minutos para falar.
O SR. JORGE DEBIAGI: Em primeiro
lugar quero agradecer a presença de todos nesta Audiência Pública; quero
agradecer as palavras, simpáticas muitas vezes, muitas vezes fortes, muitas
vezes ofensivas, mas isso faz parte do jogo democrático, como diz o nosso
Presidente Sebastião Melo. Eu gostaria de ter a oportunidade de responder a
essas mais de cento e cinqüenta perguntas que foram realizadas aqui à noite,
aos questionamentos. Teria o maior prazer, só que eu precisaria ter, Sr.
Presidente, no mínimo três horas para poder responder a essas perguntas. Não sei se a gente teria condições disso, mas
creio que tentaremos reunir isso e fazer algum documento por escrito, que a
gente distribuiria eventualmente pela imprensa ou pela própria Câmara, dando
mais explicações sobre algumas dúvidas que surgiram neste debate e na
expectativa de que esta Casa reflita, de que esta Casa tome uma posição que
seja aquela melhor para a população de Porto Alegre e para o desenvolvimento da
nossa Cidade.
Como profissional, tenho
um prazer muito grande de poder prestar alguns serviços que tenham esse
sentido. Alguns são contra, outros são favoráveis. Não posso deixar de lembrar
que, quando fizemos o projeto Praia do Guaíba, em 1986, que deu origem à Av.
Beira-Rio, vi cenas fantásticas naquele período. Pessoas subiam na Usina do
Gasômetro; na inauguração da Av. Beira-Rio, pessoas se atravessavam no asfalto,
e houve movimentos superinteressantes contra o projeto Pró-Guaíba. Do projeto
resultou a Av. Beira-Rio, que hoje está aí, e está sendo solicitada a sua
duplicação; as pessoas utilizam o rio, caminham às margens do rio, praticam esporte
graças a essa obra, porque, senão, teríamos hoje ocupações irregulares.
Infelizmente, na nossa sociedade existe esse tipo de fenômeno social. Quando
iniciamos esse procedimento, já existiam duzentas casas localizadas na foz do
arroio Dilúvio, e tudo indica que isso teria um desenvolvimento muito rápido e
bastante veloz.
Então, fico muito feliz
de poder ter dado essa contribuição importante para a Cidade, mesmo com o
contraditório, e espero que esse projeto tenha sucesso, mesmo com o
contraditório. Sr. Presidente, muito obrigado. (Palmas.)
O SR.
PRESIDENTE (Sebastião Melo): Concedo a palavra agora
aos senhores requerentes, que é o Clube de Mães do Cristal, para as suas
alegações finais, começando pela Dona Madalena.
A SRA. MARIA
MADALENA ROSSLER: Eu quero agradecer ao
Presidente da Câmara, Ver. Sebastião Melo, pelo apoio que deu a nós, do Clube
de Mães do Cristal. Pena que haja tão poucas pessoas aqui. Eu acho que
aprendemos muito aqui hoje. Foi um aprendizado, porque vimos aqui para resolver
algumas questões nossas, muito sérias da nossa região. E vou sair daqui um pouco
frustrada, porque vejo que as pessoas brigam pela orla, mas muita gente não a
conhece, não conhece a orla que nós conhecemos no bairro Cristal, uma orla que
ela vem desde o bairro Assunção e que ninguém consegue ver e nem chegar ao lago
Guaíba. As pessoas falam, mas não estão lá vendo o que está acontecendo. Então,
a gente lamenta ver essas pessoas brigarem, discutirem e disputarem espaços e
coisas, mas são pessoas que não estão lá.
Eu vi agora o Adeli Sell e o Dr. Goulart dizendo:
“Tem que estar lá para ver o que acontece”. É muito fácil para as pessoas que
moram no Centro e em outros lugares brigarem pelo lago Guaíba e pela orla. Mas
tem que estar lá no bairro Cristal, tem que estar lá no bairro Assunção, no
bairro Tristeza, e saber que nós não vamos lá, nós não conseguimos chegar lá,
nós nunca chegamos lá. Eu fico muito triste de levar para as minhas
companheiras do Clube de Mães que vamos continuar, por enquanto, parece-me, com
as ruínas e o lixão que é o ex-Estaleiro Só. Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): O Sr. Lauro
Rossler está com a palavra.
O
SR. LAURO ROSSLER: Agradeço
a presença deste público bem variado, de diversos bairros. Quero dizer que fui
até surpreendido pelo expressivo número de pessoas, as quais lotaram este
local. Quero dizer que a discussão é muito apropriada ao nosso processo
democrático, e muitas coisas que vieram à tona hoje aqui darão margem a que as
pessoas, no seu travesseiro hoje e nas próximas noites, meditem, reflitam e,
talvez, alterem um pouco algumas posições exacerbadas expressadas hoje aqui.
Muito obrigado. Boa-noite.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Ao finalizar, quero, primeiro, cumprimentar todos os participantes, especialmente
aqueles que se dispuseram a se inscrever e colocar as suas idéias. Quero
cumprimentar o Grupo de Mães do Cristal, ao qual a presidência procurou dar
todo o apoio no sentido da divulgação, inclusive alugamos um carro de som para
que toda a nossa Zona Sul pudesse tomar conhecimento dessa matéria. Quero
cumprimentar o Arquiteto Debiagi, que aqui representa os empreendedores, pela
sua participação nesta Audiência. A Casa, com certeza, sai mais enriquecida
sobre esse tema. Wilson Churchill, que foi um grande estadista, dizia: “A
democracia é muito custosa, há muitas dificuldades, muitas facetas, mas é certo
que, entre os outros regimes, é o melhor.” Democracia a gente só faz com mais
democracia. Esta Casa é o estuário da vontade popular. Tenho procurado aqui,
nesta transitoriedade de presidir a Casa, cumprir aquilo que ela vem cumprindo
ao longo de sua história.
Eu quero aqui, antes de finalizar, dizer que fiquei
muito abatido há dois dias, quando tomei conhecimento de que algumas pessoas
tentariam colocar uma medida cautelar para garantir as suas participações nesta
Audiência. Essas pessoas não conhecem a história desta Casa e não conhecem a
história do seu Presidente, que é um homem que veio da luta popular, que é um
dos advogados que mais peleiou para que este País tivesse democracia. Pois
todos falaram, e, se houvesse mais trinta, falariam também. Quero dizer que, se
não estiverem satisfeitos com a Audiência, podem pedir outra, que nós vamos
fazer.
Quero agradecer e dar por encerrada a presente Audiência.
Muito obrigado. (Palmas.)
(Encerra-se a
Audiência Pública às 23h04min.)
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